Por Elizabeth Santos
Se o produtor de um filme quer sucesso de bilheteria
tem que estar atento às imagens que precisa mostrar; as necessárias a passar
realismo ao espectador; às que apenas sugerem acontecimentos, e por fim,
aquelas imagens misteriosas a despertar a curiosidade, e manter o interesse
para assistirmos até o final.
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Então aparece um cara montando cavalo, escondendo um
punhal no cano da bota, e pegando a estrada no galope ligeiro... e a gente
deduz que vai haver briga.
Dali a pouco, num suntuoso cenário interno, de
adornos, flores e jóias surge uma família de três gerações, e a conversa é
sobre uma mudança de país. Fácil, fácil quem assiste ao filme sabe que ali
estão pessoas ricas, e novidades surgirão.
Se em determinada cena é mostrado o galã roubando um
beijo da mocinha é para o público daquele filme entender, que ali está um
personagem ousado. Nem precisará roubar outros beijos.
E daí, numa escuridão chuvosa, um vulto se move
sorrateiramente, esbarra e derruba algo que pode ser uma lixeira! No cinema
ninguém consegue disfarçar o susto, aliviado somente quando em determinada
janela brilha uma luz, e...
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_ e... o quê?
Nestas poucas linhas, temos elementos suficientes para
desenrolar um filme completo de, mais ou menos, duas horas de duração.
Novela não é assim! Novela é algo enovelado semelhante
a um novelo de fio que poderá desenrolar e tecer tramas de todo e qualquer tipo
sob um título, ou uma etiqueta só.
Novela tem várias horas de duração, é dividida em
capítulos recheados de episódios, muito mais personagens, histórias dentro de
uma história maior, e diversos tipos de enfoque. Ela vai ao sabor da onda, digo ao gosto do(a)
diretor(a), segundo o índice de audiência. Tem muitos patrocinadores, pois
existem alguns embutidos que ofertam indumentárias, adereços, produtos
perecíveis, serviços e marcas, que aparecem aqui e ali, e até inoportunamente.
Uma novela poderá surgir de um fato corriqueiro. Aos
roteiristas caberá a contextualização, a continuidade, a finalização etc. O
imprevisto está à espreita. Pode acontecer de um personagem secundário crescer
na preferência popular e passar para primário. De um outro ter que sair de cena,
mudando-se para local ignorado, ou até morrer de mal súbito, por não estar
merecendo audiência.
Se o problema é
prender a atenção do público, filma-se mais de um final. Daí algum meio de
comunicação divulga o que será desvendado no último capítulo, e é só
surpreendê-lo utilizando a segunda, a terceira ou a quarta opção, já pronta.
Outra coisa, que às vezes acontece é a novela precisar
ser emendada devido à data propícia ao início da outra, que irá substituí-la.
Mal (ou bem) comparando, pensemos no fio de uma linha fina, sedosa, de uma cor
resplandecente emendado num fio de outro novelo, sem nada em comum com o
inicial, só por falta de matéria prima... Pode acabar em um terrível desastre! Por
isso mesmo, inicio de novela é tão monótono. Aparece um mundo de coisa que
poderá gerar a liga com a extensão necessária naquele momento crucial: alguém
mexendo numa velha caixa de fotografias, bem lá no iniciozinho dará origem a um
assunto novo; ou uma simples paisagem; pessoa que retorna; ponto de vista,
opinião, ou mesmo um sentimento que mude. Quase tudo será válido desde que se
respeite o espectador.
Não vale mudar o que o personagem demonstrou ter como
característica principal e virá-lo do avesso, para desvirá-lo em dez dias, só
para seguir o calendário.
Seria como encher linguiça com carne estragada.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
Oi, Elizabeth! 🌻
ResponderExcluirAlém das novelas televisivas, existe o gênero literário novela e também a noveleta, de 20 mil a 50 mil palavras e de 7500 a 20 mil palavras, respectivamente, que ficam entre o conto e o romance. Quando vi o tema dessa postagem na minha lista de leitura lembrei do gênero literário, um gênero que recentemente eu comecei a escrever.
Gostei da postagem.
Um abraço.
~Cartas da Gleize. 💌💕