julho 16, 2019

O Castelo e o São Jorge


Por Elisabeth Santos

Estátua de São Jorge na praça do Castelo e a Beth admirando a magnitude da construção.

Na noite em que as crianças pediram ao pai que lhes contasse a história do São Jorge residente na lua cheia, e quanto devia sentir-se apertado na minguante, aquele adulto ficou sim sem saída: ou contava tudo o que ocupava sua memória, ou inventava uma nova história para o Santo Mártir do catolicismo que teve seu título cassado, e depois devolvido.

O que não poderia acontecer de maneira alguma: as crianças ficarem sem a hora da história antes de dormirem profundamente. Caso não fossem embaladas por história verdadeira, ou fruto da criatividade do contador, poderia acontecer de simularem tourada com um cobertor, guerra de travesseiros, ou cabaninha do colchão de espuma, impedindo que os adultos da casa dormissem com tanta algazarra.

Ninguém ali poderia perder hora de escola ou trabalho na manhã do dia seguinte!

_ Jorge, que nasceu e foi criança que nem vocês- começou o papai sem saber como daria desfecho ao assunto- cresceu aprendendo o catecismo, quando jovem escolheu ser soldado, e assim conseguiu ser ótimo guerreiro na defesa do reino onde morava.

Era uma pessoa de bom coração, e dois ou três episódios da sua vida confirmam isto: Era fiel à família real; doou aos necessitados a enorme herança recebida do seu falecido pai; e certa vez salvou pobres indefesos aldeões dos ataques de um dragão do mal, que exigia sacrifício de vidas não sabemos para que tanta maldade.

Assim era o homem, e o mito, denominado Jorge.

A igreja o reconheceu naquela vida de santidade, fazendo o bem, e só muito depois ficou sabendo que povos da África identificaram as manchas na lua cheia como retrato de Ogum também guerreiro.

A Inglaterra escolheu para sua bandeira a cruz de S. Jorge; muitas cidades o têm de padroeiro, e o time do Corinthians o elegeu seu patrono.  Muitas homenagens são prestadas em todo o mundo por povos que pediram a intervenção do Santo em momentos de luta contra algum mal e obtiveram a graça.

E eu, afirmou “O melhor contador de histórias para crianças dormirem como Arcanjos”, fui visitar o Castelo de São Jorge em Lisboa. Não encontrei o anfitrião. Seus vestígios devem ter sumido a cada reconstrução através dos séculos! Acontece que o imaginário coletivo leva muita gente a procura-lo lá, e acha-lo somente popularmente, em suas crenças, lembranças passadas por gerações a gerações.

E assim São Jorge resiste bravamente até hoje!   

...

Mas ali, naquele quarto de seis crianças, nenhuma ficou acordada para questionar o pai.

_Ainda bem que dormiram! Eu não saberia dizer se no tempo em que Jorge nasceu na Capadócia ainda existia um dragão de sangue e osso...
Em sentido horário: arcos e colunas do salão principal do Castelo de São Jorge, o teto de uma das salas, o portal de entrada, dinheiro e os azulejos da época em Portugal.


Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


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