outubro 10, 2014

Filisbino, Belarmino e o hino.

Outro quadro da Beth que vendeu rapidinho.

Filisbino e Belarmino eram compadres duplamente. Um era padrinho do filho do outro, e o outro era padrinho do filho do um, para deixar bem explicadinho. Todos quatro se entendiam muito bem. Era: _“Bom dia cumpadi”, pra cá. _“Bom dia cumpadi” pra lá. Era: _“Bença padim”; “_Bença padim” dos afilhados para os padrinhos a qualquer hora, em qualquer lugar que se vissem.

Certo dia, que era o dia de cantar o Hino no templo, os compadres se desentoaram, e ficaram desentendidos por bom tempo. Para os afilhados foi tempo ruim, isso sim. Não sabiam se pediam a benção ou não, pois o cigarro de palha (de cada padrinho) só ia pro canto da boca numa resposta curta e grossa: _“Deusbençoe”.

Assim um dos moleques tomou a iniciativa de nem pedir a benção mais, e ainda trocou idéia com o afilhado do seu pai:

_Se é pra responder com má vontade, nem peço mais. Nem é o “padim” que abençoa, ué! Eu mesmo pedirei a Deus a benção.

Depois disso, coincidência ou não, foram só desavenças entre os quatro, antes tão unidos e amigos. Discutiam os adultos no boteco, brigavam os meninos na escola. Parecia de nada adiantar chamar os pais na diretoria para alertá-los sobre os desentendimentos. A coisa foi ficando de tal forma confusa, e tomando uma proporção tão grande, que os próprios envolvidos diretamente no “quipro-quó” concluíram nas conversas com amigos ser a hora de por um “basta” naquilo tudo surgido de um quase nada. Foi bom, pois assim todos os colegas iam dar uma força para Filisbino e Belarmino fazerem as pazes.

O hino parodiado:

Glória, glória Filisbino;
Glória, glória Belarmino...
Vocês eram tão amigos
Por que não pedem paz?

A resposta cantada pelo Belarmino:

O “cumpadi” é muito tolo
E eu sou muito teimoso
Coisa mínima virou “bolo”
E um caso horroroso!

O revide do Filisbino:

Você quer ser poderoso
E cantar bem mais bonito
Finge tocar e dançar
Mas não toca nem mosquito!

O refrão dos amigos do coral:

“Vamu largá mão disso
Tamu aqui pra ajudá
‘Ceis dois vão ficá de bem
E us filhádu abençuá!”

E nos finalmente, afilhados entoaram:

Glória, glória meu “padim”
Essa vida é bem ligeira
Dêis queu era pequinim
‘ceis insisti na bestêra!

Um qué sê mió qui o otro
Sendo os dois da mesma massa
Nóis que somo afilhados:
“nem tem “bença”, nem tem graça.”

E todos juntos com o dirigente:

“Glória, glória e louvor,
 Tudo na vida é passageiro
Fora o guia e o cobrador,
Vamos todos pro terreiro!”

Alguém ali achou que a paródia era uma falta de respeito, mas foi só um. O resto, na quase totalidade, considerou válida a brincadeira bem humorada que levou a uma descontraída e sonora  risada, saindo todos em paz consigo e com os outros, para sempre (ou até o próximo episódio, com outros personagens).

“É tratar de viver bem
Jogar desavença ao léu
Só então colher a benção
Qui invem vindo lá du céu.”

Assim é!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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