Outro quadro da Beth que vendeu rapidinho. |
Filisbino e Belarmino eram compadres duplamente. Um era padrinho do filho do outro, e o outro era padrinho do filho do um, para deixar bem explicadinho. Todos quatro se entendiam muito bem. Era: _“Bom dia cumpadi”, pra cá. _“Bom dia cumpadi” pra lá. Era: _“Bença padim”; “_Bença padim” dos afilhados para os padrinhos a qualquer hora, em qualquer lugar que se vissem.
Certo dia, que era o dia de cantar o Hino
no templo, os compadres se desentoaram, e ficaram desentendidos por bom tempo.
Para os afilhados foi tempo ruim, isso sim. Não sabiam se pediam a benção ou
não, pois o cigarro de palha (de cada padrinho) só ia pro canto da boca numa
resposta curta e grossa: _“Deusbençoe”.
Assim um dos moleques tomou a iniciativa de
nem pedir a benção mais, e ainda trocou idéia com o afilhado do seu pai:
_Se é pra responder com má vontade, nem
peço mais. Nem é o “padim” que abençoa, ué! Eu mesmo pedirei a Deus a benção.
Depois disso, coincidência ou não, foram só
desavenças entre os quatro, antes tão unidos e amigos. Discutiam os adultos no
boteco, brigavam os meninos na escola. Parecia de nada adiantar chamar os pais
na diretoria para alertá-los sobre os desentendimentos. A coisa foi ficando de
tal forma confusa, e tomando uma proporção tão grande, que os próprios envolvidos
diretamente no “quipro-quó”
concluíram nas conversas com amigos ser a hora de por um “basta” naquilo tudo surgido de um quase nada. Foi bom, pois assim
todos os colegas iam dar uma força para Filisbino e Belarmino fazerem as pazes.
O hino parodiado:
Glória, glória Filisbino;
Glória, glória Belarmino...
Vocês eram tão amigos
Por que não pedem paz?
A resposta cantada pelo Belarmino:
O “cumpadi”
é muito tolo
E eu sou muito teimoso
Coisa mínima virou “bolo”
E um caso horroroso!
O revide do Filisbino:
Você quer ser poderoso
E cantar bem mais bonito
Finge tocar e dançar
Mas não toca nem mosquito!
O refrão dos amigos do coral:
“Vamu
largá mão disso
Tamu
aqui pra ajudá
‘Ceis
dois vão ficá de bem
E us
filhádu abençuá!”
E nos finalmente, afilhados entoaram:
Glória, glória meu “padim”
Essa vida é bem ligeira
Dêis
queu era pequinim
‘ceis
insisti na bestêra!
Um
qué sê mió qui o otro
Sendo
os dois da mesma massa
Nóis
que somo afilhados:
“nem
tem “bença”, nem tem graça.”
E todos juntos com o dirigente:
“Glória, glória e louvor,
Tudo
na vida é passageiro
Fora o guia e o cobrador,
Vamos todos pro terreiro!”
Alguém ali achou que a paródia era uma
falta de respeito, mas foi só um. O resto, na quase totalidade, considerou
válida a brincadeira bem humorada que levou a uma descontraída e sonora risada, saindo todos em paz consigo e com os
outros, para sempre (ou até o próximo episódio, com outros personagens).
“É tratar de viver bem
Jogar desavença ao léu
Só então colher a benção
Qui invem
vindo lá du céu.”
Assim é!
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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