dezembro 18, 2020

É teatro II

Por Elisabeth Santos

O aranha ataca outra vez.


A gente cá na Terra pensando em bomba atômica depois de tantos atos terroristas, e a chegada de um inimigo invisível trouxe espanto generalizado. Como pôde acontecer? Não temos espiões eficientes que poderiam ter trazido a notícia de uma ameaça biológica de humano para humano? Nossos avanços científicos, eletrônicos, de chips a inteligência artificial não deram conta de avisar-nos com antecedência sobre perigos que poderiam vir por costumes simples já arraigados na maioria da civilização e ora abandonados?

O que aconteceu mesmo? As respostas são diferentes umas das outras e vêm de todas as camadas sociais, crenças, costumes e regimes políticos do mundo.

Fico com esta opção:

- Já havia acontecido antes, mas ninguém pensou numa prevenção através de uma espionagem bem paga. Tipo... sei que em certas partes do mundo estão acontecendo mortes horríveis por sufocamento causado ninguém sabe porque, ou por quem. Vá lá investigar e volte para nos contar.

Aqui começa a inspiração para uma peça teatral a partir de poucas linhas bem escritas.

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Entra em cena, num palco iluminado, vestido de dourado, o homem bola rolando. Bate na parede, desenrola e espreguiça. Acabava de acordar para a realidade:

 - Certo organismo vivo minúsculo mantem todos os humanos presos em suas casas por tempo indeterminado e eu, o homem bola estava sem o que fazer. Cheguei aqui por puro acaso e tenho que fazer meu número pois há uma distinta plateia, embora de seres esqueléticos, parados e mudos. Parados, mas parecendo esperar algo novo.

Eis que surge no mesmo palco um personagem esquisito falando sozinho. Depois outro, e outro, e mais outro. As conversas deles não fazem sentido por não se encaixarem em idiomas reconhecidos pelos responsáveis pela peça teatral.

- Esta peça não está agradando...

- E, no entanto, nenhum dos esqueletos da plateia se manifesta...

- Claro que não seu Idiota. Não percebe que são de papelão. Todo mundo tá nos assistindo pelo celular. Ninguém pode sair de sua casa em tempos nefastos como os que estamos vivendo Zé Mingué!

_ Hei colega! Muita calma nesta hora. Não queiramos nós, pobres mortais, atrapalhar ainda mais a problemática. Voltemos ao trabalho.

_ Não acho sermos suficientes para a “solucionática”. Quero ajuda da Gisele, a espiã nua que abalou Paris; preciso urgente do sr. Zero Zero Sete aqui, e agora. Tragam também todos os bons detetives desde o que diz: - Elementar meu caro Watson, até o Bolinha de Eugen, com sua lupa e a frase finalizadora de buscas resolvidas... ”O Aranha ataca outra vez”.

Começa a busca dos sinais: onde, como, quando e o porquê do CORONA passar de animais selvagens para humanos. Essa foi fácil:- Na fome, estes engoliam aqueles!

No palco chegou um dragão a ser morto, e devorado por aldeões.

Cena tenebrosa!

Em seguida Gisele, usando seus conhecidos métodos da época em que valiam de alguma coisa, descobriu um grupo de biólogos e cientistas NERDS, que por falta de serviço no ramo foram atuar num seriado televisivo. Ela, Gisele, conseguiu o retorno deles aos laboratórios, buscando a biografia do novo vírus, tipo: onde nasceu, por onde passou, porque se hospedou com humanos. Descobriram tudo que era preciso, mas no exato momento de testar antídoto para liberar produção em massa... o material acabou.

Entra Zero Zero Sete. Foi atrás de quem poderia auxiliar. Precisou do reforço de seus colegas de todo o mundo redondo, achatado nos polos.

 Precisava pagá-los pois sustentavam famílias. Não achou o vil metal em lugar algum que estivesse ao alcance de suas poderosas mãos. Ouviu dizer que estaria na bolsa. Que bolsa? Nunca chegou a saber nem de que material era feita. Melhor dizendo, a coisa demorou tanto que o vírus foi hibernar, a doença esteve sob controle, e ninguém se interessou em investir em algo de lucro incerto, e demorado.

Daí a gente simples da aldeia Palco Iluminado, o Bola vestido de dourado e mais o Bolinha, se juntaram. No Clube do Bolinha meninas já eram aceitas. Uma delas, que comia melancia, ensinou a todos a devorarem vegetais e não animais. A coisa começou a melhorar a partir de então.

Foi a partir da mudança de hábitos, inclusive o pior deles que era juntar dinheiro sendo que ninguém o come... que nosso mundo voltou a florescer.

Escutei esse versinho, ou foi pura impressão minha: “Mundo, mundo, velho mundo. Se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima... não uma solução”.


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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


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