Por Elisabeth Santos
Sempre estive curiosa para saber como,
que jeito, de uma história singela, romance de trinta páginas no máximo, pode
ser criada uma peça de teatro emocionante. Já vi muitas, mas levei algum tempo
para optar pelo item é “olho clínico”. Sabe aquele texto, que o especialista
olha uma única vez e diz: já estou imaginando o cenário, os atores (amadores e
profissionais), diálogos, figurino dos personagens, o elemento surpresa e quem
ficará com quem?
Pois é!
Pode ser, que assim de cara “o gênio”
da encenação profissional ainda não tenha um final para a peça. Também, né
gente, ele terá que ter algum trabalho. Caso contrário todos nós poderíamos
fazer, no mínimo, uma peça de teatro. A da nossa vida, pô!
Então vou atrás de sugerir. Ninguém
pediu, mas estou afim, e faço o que quero da minha quarentena e da sexta-feira
santa confinada.
...
Entrou o Zé Mané afobado, suado e
gritando:
- O mundo tá virado de cabeça pra
baixo.
- Plantando bananeira? É isso que
você quer dizer Zé?
- Não. Quem vira de ponta cabeça, e a
gente fala “plantou bananeira”, é mulher vestida de saia. Esta roupa é atraída
pela gravidade, então fica parecendo o pé da banana. É o mundo mesmo que tá
virado!
- Vou ver.
Chegando na sala, Márcio olhou o
quadro de cinco mil pecinhas de quebra cabeça pendurado na parede e... estava
mesmo de ponta cabeça (se é que aquele mapa em forma de esfera pudesse ter
Ponta e Cabeça). Tudo linguagem simbólica, pois o dono da casa já tinha matado
a charada:- Dia anterior fora dia da faxineira que retirou o quadro enorme,
cujo prendedor na parede era um barbante sedoso e comprido por detrás. Sem
perceber, porque circunferência não sinaliza qual lado deverá ficar para
cima... Enfim o mal entendido estava apenas começado.
Só que não, para espanto dos outros
moradores da casa. Zé Mané afirmava ter visto coisas. Cada qual tinha sua
opinião e tratou de externar.
O cenário muda.
A situação no mundo mudou emudecendo
rostos estupefatos. Quem não saia, teve que sair para acudir. Quem saia a dar
voltas ao mundo, teve que ficar morando no veículo condutor por terra, ar ou
mar!
Falavam em corona-vírus. Ouvia-se
coroa viva. Não existia plano B ou carta de baralho na manga. Todos
prisioneiros de um contingente desconhecido queriam descobrir o que seria
aquilo. Nostradamus? Apocalipse? Nova era? Era nova? Tudo junto misturado?
O maior dos curiosos foi consultar o
oráculo sabendo de antemão que ele sim respondia perguntas. Quero dizer, o
curioso arguia: - É isso? É aquilo? Aquilo outro?
Tipo vestibular e suas múltiplas
escolhas.
Dessa vez o oráculo dizia, sem
responder, e repetia sem parar:
_ Só dessa primeira e última vez, eu
quem faço a pergunta que não quer calar: - O que vocês, os racionais, andaram
aprontando aí no planeta Terra hein? Hein? Podem dizer que eu perdoo. “Quem diz
a verdade não merece castigo” (o oráculo citava por não estar inspirado para
usar sua sabedoria). Continuando deu a sentença: - Tratem de consertar o mal
feito, e rápido!
Cada qual pegou sua vassoura
varredora, não voadora para outro planeta, e foi arrumar a casa das gentes.
Voltando ao aconchego do lar, sr.
Márcio e família, viram as pecinhas do quebra-cabeças, existente na sala de
estar, esparramadas no assoalho. Começaram a catar para tentar recompô-lo.
...
Não sei se ficou igual porque
cochilei.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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