março 26, 2019

Os livros da minha vida


Por Elisabeth Santos


Eu nem sabia ainda o que significava sentimento quando minha madrinha leu uma composição escrita por mim na escola, e a matéria ainda se intitulava “Língua Pátria”. Faz bem tempo isso...

Lola observou que, embora bem redigida, e avaliada com nota dez pela professora eu deveria acrescentar sentimentos aos meus escritos posteriores. Falando sério achei que não tinha futuro como escrevinhadora que era, e escritora que almejava ser. Rasguei a folha de papel onde estava meu “dever de casa” bem nas fuças da Dinda e resolvi nada escrever dali por diante. Vivi um conflito: Poderia seguir as normas passadas pela professora usando palavreado rebuscado e pedante, ou dali por diante ser mais autêntica, inclusive descobrindo o que seria “acrescentar sentimento” em meus escritos. Não tinha noção nem da existência quanto mais da dimensão de um sentimento que fosse além desses que criança tem: alegria, tristeza, medo ou dor quase sempre com um motivo evidente.

Fazer uma composição escrita, tudo bem. A matéria escolar exigia. Escrever pelo gosto de escrever desenvolvi nas cartas aos meus irmãos e irmãs que eram adultos e moravam em outras cidades; nos cartões de natal, aniversário, formaturas e coisas assim, aos parentes e amigos. Até chegar o dia das cartas de amor!

Acho que aí nasceram e transbordaram sentimentos pelo sexo oposto, pois os olhos, ou o modo de olhar mudaram. Olhos que viam meninos como colegas, passaram a vê-los como destinatários de admiração, paixão ou amor.  O vocabulário escrito cresceu visivelmente, e até a inspiração para poesias foi despertada. Sonhar acordada era uma constante na minha vida de adolescente. No meu “sonhar dormindo” povoado por mocinhos de cinema, era possível identificar algum rapazinho da vizinhança, amigo, ou professor inatingível.

Assim fui escrevendo de outro jeito: bilhetinhos açucarados, cartas melosas, contos de amor de cinderela para príncipe encantado, declarações em prosa e verso.

O presente a acompanhar a carta seria uma foto tirada especialmente, com dedicatória de letra caprichada, pois “quem manda foto promete original”.

Meu primeiro livro só saiu mesmo depois de aposentada na missão de professora. Despretensioso demais para ser publicado, foi copiado em Xerox e distribuído à minha numerosa família. O segundo nem atingiu o patamar do seu antecessor. Está dormindo no fundo de uma gaveta.

Foi quando aconteceu- me um convite em 2013 para divulgar semanalmente, num blog, crônicas, contos, notícias, relatos... O que eu desejasse enfim. Comecei e ainda não terminei. Gosto de voltar-me para o que tenho em mente, digitar, tirar dúvidas no dicionário “on line”, pensar numa ilustração, e depois ler via internet, a qualquer momento, em qualquer parte do mundo em que eu estiver. Aliás, esta é a grande vantagem de ser e ter leitor de computador.

Ainda assim recebi de presente a organização dos meus contos dos últimos seis anos em seis volumes! Fiquei muito feliz e surpresa. Pensei não haver necessidade de imprimir, mas ainda tenho leitores que gostam de sentir o contato direto com o livro de papel.

Muito obrigada a todos!


 

Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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