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Depois do fogão a lenha, chegou à minha terra natal, a novidade da substituição deste combustível por palha de arroz. Passados uns tempos apareceram, um por vez, na loja especializada: o fogão a querosene, o elétrico, e por último o fogão a gás que permanece firme até os dias de hoje na maioria das residências daqui.
Quanto à geladeira a querosene, só era vista em algum estabelecimento comercial, que necessitava manter alimentos em baixas temperaturas.
Parece que a população do interior não fazia questão de aguardar mais um tempo, para ter em suas casas um refrigerador prático, de fácil manejo, ligado à tomada elétrica.
Então, no tempo da cozinha sem geladeira, de fogão feito de alvenaria, movido à lenha, ou palha de arroz... A atividade culinária não era nada fácil!
Gastava-se meia hora para acender o fogo, e aquecer a trempe. Até ferver a água do café, e o leite, outra meia hora. Aí sim se podia usar água quente da torneira, e até assar alguma quitanda no forno acoplado ao fogão, e tudo ficava resolvido: crianças a caminho da escola, adultos para o trabalho, o dia bem começado!
Passou pela cabeça do primogênito da família, ao arrumar emprego, trazer um presente surpresa, da cidade grande diretamente para o interior de Minas.
Realmente surpreendeu! A cozinheira olhou desconfiada para aquele lindo fogão azul, de seis bocas, duas portas de fornos, e ainda por cima, ornado por uma fileira de oito botões.
Foi trazida uma mangueira que se conectou a um botijão de treze quilos de gás, e o susto ficou completo! Donana fez o sinal da cruz e afirmou que ali não haveria de cozinhar mais. Dona mamãe se comprometeu a ensiná-la, mas ela continuou irredutível.
Tinha medo de o botijão explodir.
Levaram-no para fora da cozinha, donde foi feito um orifício na parede para passar a mangueira. Nem assim Donana aceitou experimentar. Para não perder a cozinheira, e ficar muito tempo procurando outra, aquele cômodo abrigou dois fogões, um bem longe do outro, sendo que o novo, por cima da tampa levava um guardanapo bordada a frase: “Deus proteja este lar”!
E protegeu até o emprego da cozinheira, porque mesmo anunciando no Rádio:
“Procura-se auxiliar de cozinha, que saiba lidar com fogão a gás (de seis bocas para alimentar dezoito); dois fornos (para assar meio cento de quitandas ao dia)”, nem meio candidato apareceu.
O mérito, daquele maravilhoso fogão delegado a um segundo plano, foi despertar o gosto culinário nos adolescentes da família. Nenhum dos seis quis aprender o arroz soltinho, o feijão de caldo encorpado... Mas pavê, docinho, bolo de aniversário, pizza e todas as novidades da época, foram ali treinados diariamente.
Tempos depois, apareceu uma cozinheira para substituir a aposentada Donana. O fogão à lenha pode então ser demolido. As surpresas: o choro do menino de três anos, deduzindo que não ia ter almoço e jantar mais; a nova cozinheira que deixava uma chaleira d’água fervendo, o dia todo na chama do gás, e a comida em banho-Maria para o último que chegasse da rua. É isso. Doninha (nome da nova empregada) não havia ainda adaptado seus conhecimentos de uso de fogão demorado, para fogão rápido no cozimento.
A filha dela sim! Tem geladeira com funções diversificadas, micro ondas, cafeteira, panelas elétricas e ainda sabe fazer um autêntico churrasco na brasa!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".