outubro 02, 2020

O mocinho

Por Elisabeth Santos


Não completou um ano de vida, mas já sabe o que quer e o que não quer!

Está no colo, porem aponta para a porta da rua, inclinando o corpo como se dissesse “-já estou indo!” E praticamente “carrega” quem ali se encontra supondo dominar a situação. O mocinho veste uma calça jeans azul furada, e desbotada (por cima da fralda); camisa de bolso e botões, e ainda por cima, um lenço típico de cowboy ao pescoço (disfarce de um babador).

Nem a dentição completa ele tem, entretanto só teima com ele que quer sair, aquele que não colabora e está pronto a ouvir reclamação.

E lá vão os dois até a porta sendo que, a mão a ir ao trinco primeiro é sempre do apressadinho.

E quem não viu, presenciou a cena no local, custa a acreditar que aquela risada gostosa, de alegria sem fim é de um mocinho cuja maior felicidade é ver a rua!

Sim. No momento ele não quer outra coisa. O que existe além daquela porta que o atrai tanto? Sol? Carro? Moto? Cachorro? Gente de montão? Cada familiar dá seu palpite e todos acertam e ganham o prêmio de levar o mocinho a passear na praça numa tarde de domingo. Pode ser de carro, carrinho ou a pé. Tudo ele aponta, chama com a mão, balbucia como quem fala e espera resposta. Gosta muito de ouvir uma prosa e quer ser entendido.

Dali a pouco, cansado de perseguir um cãozinho mascarado (seria bandido?) o mocinho mama, dorme e parece sonhar.

Com o que ele sonha? Vovó palpita que sonha com anjinhos do céu querendo brincar de pique.

Vovô aposta que é com uma mocinha que o cowboy está a sonhar.

Ninguém saberá ao certo, até mesmo porque nenhum familiar vai acordá-lo para perguntar-lhe, né?

Dá a maior canseira adormecer o pequeno, quando reluta em pegar no sono.




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia"

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