As pessoas estavam chegando de longe para inesperada
visita familiar. Era muita gente entrando, e cumprimentando os muitos que ali
estavam. A criança ali perdida, só enxergando pernas indo, pernas voltando na
sala de jantar assustou-se por não entender nada.
Um dos jovens tentava adivinhar o motivo daquela
caravana de visitantes bem no horário de ser colocado o almoço na mesa, e
chegou a preocupar-se com a demora da empregada em trazer a comida. O dono da
casa, enxergando pouco devido à idade, distinguia os familiares que há tempos
não via através de gestos e atitudes que permaneceram em sua memória:
Tio Juca é aquele que abanou o pó da cadeira com seu
chapéu, antes de sentar-se.
Sinhazinha deve ser a que reparou a mesa de toalha
alvíssima antes mesmo dos cumprimentos.
Quem fez um muxoxo, só poderia ser a megera da tia avó
da turma.
As crianças correndo de cá pra lá... eram de uns que
ali estavam, e de outros que não vieram. Certamente primos.
E chegado o momento, elas mesmas ofereciam petiscos de
pepino picadinho com fatias de limão. Algumas deixavam escorregar do prato
aquela salada, e eram ajudadas pelos maiorzinhos.
Todos aguardavam o almoço, que não vinha da cozinha
silenciosa, e sem cheiro que pudesse despertar apetites... ou só davam a
impressão, que algo haveria de acontecer em seguida?
Mas afinal, pergunto-me o porquê de tanta roupa de
festa branquíssima num dia comum. Perguntaram-me agora por que alguém devolvia
aos reais proprietários as joias retiradas do cofre aberto na estante do
corredor.
E aquele silêncio o tempo todo que durou a visita, era
impressionante!
Assim como apareceram, sumiram...
........................................................................................................................................
Dia seguinte ouço no rádio notícias da festa do Bonfim
iniciando naquele janeiro calorento de Salvador: a multidão vestida de branco
percorrendo a pé os oito quilômetros de distância do Largo da Conceição ao
Largo do Bonfim; as carroças enfeitadas conduzindo tanto os mais novos quanto
os mais velhos; a lavagem da escadaria da igreja católica pelo povo do
Candomblé, com muita água de cheiro; uns indo para agradecer, outros para pedir
Paz, Saúde e Prosperidade, quando não vinham para os dois atos de Fé.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Leave your comments here.