janeiro 12, 2018

Sonhei

Por Elisabeth Santos
Nuvens escuras e espinhos no Brasil.

Sonhei que uns anjos no céu fizeram uma reunião para discutir a ganância que assola o Brasil. Para que os anjos mais jovens entendessem direitinho a questão, utilizaram recursos mediáticos semelhantes aos do Planeta Terra com a diferença que no céu não se fez necessário imprimir nada e muito menos ligar à tomada ou trocar a bateria.

Não demorou muito tempo para que o grupo tivesse diversas e boas ideias do que fazer, e partiram em grupos de três diretos para as penitenciárias, por entenderem que o nome era bem parecido com o que conheciam bem: Penitência!

Chegando ao local nem pediram autorização para entrar. Temiam cobranças indevidas sendo que vieram em missão de Paz e Bem, com bolso vazio e coração transbordante.

Quando os penitentes estavam em horário do banho de sol, naquele imenso pátio, começaram a ter visões: Viam a fila de atendimento do Sistema Único de Saúde; crianças sem merenda nas escolas aos pedaços; pessoas caindo mortas por terem sido achadas por balas perdidas; filas de gente mendigando empregos sendo que já tinham conhecimento que a Terra deveria ser o lugar de “ganhar o pão com o suor do rosto”. Teve até quem viu um verde enorme virar fumaça, uma água doce se transformar em lama!

E aí se deu um fenômeno: penitentes queriam fechar seus olhos e não conseguiam. Nada de remela ou cola invisível. Simplesmente aqueles olhos não fechavam mais. O sol causticante. O concreto do chão pelando. Sentavam e ficavam novamente em pé para não queimar as nádegas de pele mais sensível que a sola do pé. Começaram a pular trocando o pé direito pelo esquerdo numa tentativa de aguentar mais. Os tais anjos observando serenos. A tortura não era aquilo tudo ainda, pois nenhuma lágrima foi vista.

Aí as imagens do sofrimento alheio, que apareciam sem cessar naquela espécie de Telão, se transfiguraram...

 Já não eram anônimos. Eram reconhecidos como parentes e amigos dos que ali pagavam penas terrenas. Por incrível que pareça o inesperado aconteceu: as lágrimas caindo copiosamente fizeram pálpebras antes imóveis pudessem cerrar olhares aterrorizados; lágrimas estas, que esfriando o chão fizeram muitos se ajoelharem arrependidos.

Ouvi barulho de asas?

Sem saber ao certo o que era e de onde vinha o som... Cai da cama.

Acho que estive sonhando o melhor dos sonhos!
 



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


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