Por Elizabeth Maria
Resolvi pintar um quadro depois dele estar prontinho
na minha imaginação. Não quis tela quadrada para que não fosse rotulado de
quadro quadrado, e alguém confundi-lo com “careta”; igualmente não escolhi a
tela redonda para ninguém dize-lo “bem bolado”. Arrisquei a fazer algo único,
só meu, recortado de maneira criada por mim com linhas orgânicas sobressaindo
de ângulos retos, agudos, obtusos não. Na superfície nada plana, reentrâncias e
saliências, altos e baixos, sulcos e tramas. Dessa maneira, visto à distância
parecia algo reconhecível, de perto seria difícil de ser comparado
acertadamente com outra coisa existente em lugar comum.
Na minha imaginação tratava-se de um quadro muito
bonito, quase perfeita obra de arte. As cores eram as existentes no céu, vistas
por um prisma de cristal. Se estaria parecendo “colcha de retalhos” não me
importava. Queria todas as cores harmonizando-se no meu quadro! Sem exclusão de
nenhuma.
Ali pintei o que me deu vontade, gastando tintas,
desgastando pincéis, utilizando as pontas dos dedos para delimitar formas, as
costas da mão na criação dos tons de transição entre uma cor próxima de outra
tão diferente. Estive tanto tempo envolvida com tudo isso, seguindo o modelo
determinado na minha cabeça, ou buscando originalidade, até quase me perder de
mim! Quero dizer, perder o modelo da obra artística pretendida por mim, única
no mundo.
De vez em quando me sentia rica de ideias, noutras...
pobre de criatividade, mas não desejava deixar no ar, sem finalização o que
seria uma missão, ou quase. A imaginação ditava as coordenadas, mas o desejo de
extrapolar e ir além aparecia sem aviso prévio a mudar a direção traçada. Venceu a determinação de captar a
originalidade, terminar o quadro que ficou imenso, e expô-lo à apreciação de
todo o mundo.
Ouvi, li, acompanhei pela TV e “interneticamente” todos os comentários, críticas as mais
diversas. Gerei uma polêmica: aquilo não era arte e sim fantasia.
“Nada tinha a ver com nada: originalidade, estética,
academicismo, intuição, naturalidade, espiritualidade, liberdade, só vontade de
aparecer mesmo. Uma obra destinada aos seus cronometrados cinco minutos de
fama.”
Melhor ainda ficou para mim quando surpreendi os
leitores declarando-me feliz com aquele rebuliço mediático, afirmando com todas
as letras que meu objetivo foi atingido.
Viva eu! Viva tudo! Viva o Chico barrigudo!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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