maio 25, 2018

Mexeriqueira


Por Elisabeth Santos



Poderíamos estar falando de uma árvore que dá uma fruta deliciosa e de aroma intenso.

Infelizmente a mexeriqueira virou o pejorativo para denominar a pessoa, que faz mexerico. Esta é a intrometida em assuntos que não lhe dizem respeito. Por que a mexerica, pobrezinha, levou a culpa não sabemos ao certo. Pode ser entendido pelo aroma que espalha no ar denunciando quem está a descascá-la, ou provando-a.

E quem é mexeriqueiro, se metendo onde não é chamado, espalhando por gosto as notícias verdadeiras ou falsas, mas que não são da sua conta, em algumas localidades é chamado abelhudo.

E a coitada da abelha, tão laboriosa por que teve seu nome comparado a coisa tão feia? Deve ter sido por ser xereta (aproximando-se sem convite), entrona (no miolo das flores), e chaleira (bajuladora de muitas plantas).

Chaleira é aquela simples vasilha de cozinha que serve para esquentar água. Água para o chá, café, chimarrão... todos tão corriqueiros e inocentes. Só o feitio de tal utensílio culinário poderia ser inspirador da maledicente comparação, e gerado o verbo chaleirar, que significa bajular. Afinal o bico da chaleira fica a jogar vapor pro alto. É risível por não ser esta sua maior utilidade. Parece estar incensando, há, há...

Chaleira não é enxerida, porque não se mete a modificar ou consertar assuntos de terceiros, sobre os quais desconhece o verdadeiro motivo, nem competência.

Havendo segunda intenção na atitude da pessoa “chaleira”, o que é muito difícil não haver... Aí sim! Pessoas ficam chaleirando para fingir amizade. Isto é muito feio! E o que ganham afinal?

Não precisamos entrevistar ninguém. Apenas fomos ligando informações:

_Ganham passando para frente meias notícias, recebendo em troca outras novidades. Recebem o título de fofoqueiras, por terem bisbilhotado fatos que nem lhes interessavam diretamente, e ainda aumentado com uma suposição criada no “leva e traz”.

A maioria das pessoas a cultivar mexerico o faz por pura vaidade. Devem estar na disputa de Egos, querendo decidir destinos. Não estão nem um pouco interessadas em serem felizes ou fazerem a felicidade de seus semelhantes. Querem ter razão sempre, nem que seja acreditando no final infeliz que criaram.



--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".     

maio 18, 2018

Detetive em ação

Por Elisabeth Santos

Resolvi fazer um curso de detetive acreditando piamente ter paciência de sobra para investigar até a finalização satisfatória qualquer caso de sumiço.

Só de sumiço!

Objetos preferencialmente.

Dentro de um ambiente limitado. 

Com cliente interessado no assunto o bastante, para responder minhas perguntas básicas: Características da coisa desaparecida; data e horário prováveis do acontecimento; local onde foi visto “o sumido” pela última vez, e pessoas presentes que pudessem colaborar com informações adicionais no decorrer da busca. Até os dias atuais, não falhei uma vez sequer. A bisa já havia me chamado para descobrir onde andava a pensão recebida do falecido, e descobri. Vovó pediu-me certa vez que procurasse seu colar de pérolas cultivadas, e embora ela afirmasse categoricamente que em determinada gaveta ela já havia procurado sem achá-lo... lá procurei e encontrei sua joia de estimação! Por esses e outros trabalhos investigativos convenci-me de precisar atualizar-me urgente e continuar a merecer a confiança de outros prováveis clientes.

Três dias de curso intensivo, mais prático, que teórico, melhoraram meus conhecimentos, posto que objetos pessoais do século XXI existem em maior número, e são mais valiosos devido ao grau de utilização nas informações. Além disso tudo, estão diminuindo em tamanho e espessura causando dificuldade em acharmos seus esconderijos.

Ainda bem que o instrutor exemplificou com dois celulares. O primeiro à mão, o segundo oculto propositalmente na sala de aula. Fazendo-se a ligação telefônica, ouve-se o sinal dado pelo celular buscado. E se estava desligado... a investigação continuava até obter-se êxito.

Revira-se tudo que estiver no entorno, afirmava o mestre, começando pelo óbvio ululante: bolsa e bolsos do proprietário, livros e cadernos, marmita etc. Fracassando esta etapa, pergunta-se onde o dono do pequeno objeto eletrônico esteve por último a utilizar “o sumido”. Intensifica-se a busca em outros cômodos próximos: banheiro, copa, sala de multimídia... Cada móvel é revistado atenta e cuidadosamente. Depois dos móveis, os cantinhos e seus lixinhos.

Formei-me no curso com louvor.

Logo no primeiro apelo para que eu descobrisse por onde andaria o volume dois da enciclopédia Spazia Calda desaparecido na própria biblioteca de um amigo, ex- colega de faculdade, passei oito horas na busca. Encontrando-o fiquei satisfeita, e recebi de recompensa três outros livros com dedicatória do autor!

Caído atrás da estante, ou das gavetas da escrivaninha não estava. Quem sabe estaria servindo de anteparo à vidraça da janela, ou da porta? Desta vez fui verificar com a faxineira, e lá estava o volume substituindo parte do pé quebrado de sua escada portátil acompanhando-a de cá para lá, garantindo-lhe “segurança”.

Então, ficam aqui as dicas para as procuras de perdidos: lugares pouco prováveis devem ser vasculhados também, pois na minha percepção, objetos terão o uso mais adequado à necessidade pessoal do momento.

Não faça mau juízo de ninguém antes de verificação atenta, por mais que você se lembre da frase hilária: “Antes levar o objeto por engano, do que deixar o que lhe pertence por esquecimento”.



--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

maio 11, 2018

Meu buquê de flores

Por Elisabeth Santos



O meu buquê de flores para você tem flores de todas as cores e feitios. Todas são perigosas dependendo do ângulo do qual são observadas. Umas têm pólen bem à vista e podem fazê-lo espirrar; outras têm espinhos e podem fazê-lo sangrar; há também as venenosas... que ficam para cada pessoa imaginar.

Meus amigos e amigas sabem que aprecio flores e sempre as escolho pela aparência. Os buquês, os arranjos florais, ramalhetes e coroas que crio na minha floricultura nem sempre são apreciados. Uns acham que existem flores que não tem nada a ver com outras, mas eu continuo achando que naquela aproximação de desiguais uma sempre pega um pouco da luz, ou do perfume da outra ajudando a espalhá-lo no ambiente que foram escolhidas para estar, enfeitar, alegrar ou até mesmo aquietar a alma. Tudo isto acontece, principalmente, pelo respeito que tenho às épocas das floradas.

Sim tenho minha parte naturalista, embora conhecendo técnicas de conservação da flor que sonho misturar com outra na “corbeille” especial que oferto só uma vez ao ano.

Ao término de cada tarefa encomendada, no fechamento simbólico do laço de fita brilhante por si só, onde coloquei cachos do ipê florido em ouro, e tudo de bom que há no âmago do meu ser... o cartão!

As pessoas a encomendar o arranjo floral escrevem surpreendentes mensagens, que eu nunca fico sabendo a não ser, que depois venham me contar.

Não vêm à minha floricultura só para pôr-me a par da emoção sentida diante do apelo visual, e dos demais sentidos, ao receberem as flores; comentam da surpresa que foi a leitura do cartão; fazem suas encomendas...

Nesse mister sobrevivo, dali ganho meu sustento. Alguém que gostou, sempre traz mais pessoas interessadas na mistura artística que faço em criações florais para celebrar a vida em seus aspectos diversos.

Após uma troca inesperada havida na entrega de duas encomendas, fiquei muito mal. Sabia não ser a culpada na eventual troca. Sabia que não era erro tão evidente como entregar uma coroa funerária florida num dia de “Feliz Aniversário” e vice versa. Não se tratava de uma simples “saia justa” solucionável com um pedido de desculpas ou devolução do dinheiro. Era algo bem mais difícil de resolver, e sentia que cabia a mim intervir, para as partes envolvidas voltarem a se entender.

Tratava-se de problemas familiares, sendo um envolvendo herança. O assunto estava exatamente no cartão. O que quero deixar claro é que nada tinha a ver com as flores, o pólen ou com os espinhos. O veneno, se é que havia algum, também não era do arranjo floral da minha excessiva criatividade!
Sabendo da curiosidade de quem possa estar lendo, desvendarei o mistério até onde entendi: era veneno de língua humana, vingativa ou invejosa.

Um dos buquês ia com os seguintes dizeres: _ ponha onde preferir! - Foi entregue ao inventariante mor que havia lesado alguém que nem assinar assinou, mas foi considerado suspeito.

O segundo buquê foi entregue a uma idosa que colecionava jarras de flores sobre sua antiga e enorme mesa da sala. O cartão, também sem assinatura, dizia assim:

 _ enfia no mesmo lugar onde está sua riqueza...

Enquanto não resolvi a questão, tendo que antes ficar ouvindo as histórias dos dois presenteados com minhas lindas flores de triste destino, não sosseguei!

Assim sendo continuo no ramo, pois a firma que sempre fazia as entregas era terceirizada.

Terceirizei toda a responsabilidade final.

Lavei, e perfumei minhas mãos com água de pétalas de rosas.



--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


maio 04, 2018

Despedindo me do Canadá


Por Elisabeth Santos


O Canadá era Colônia da França e da Inglaterra, portanto a monarquia existia desde aquela época. A independência total do Canadá aconteceu em 1931, mas ainda tem a rainha a delegar poder a um governador Geral. O regime político de lá é a Monarquia Constitucional onde a rainha rege, mas não governa.

Ao Parlamento Central cabem: defesa, comércio internacional, sistema monetário e bancário, direito criminal, indústria pesqueira, transportes, telecomunicações e energia nuclear. As províncias são responsáveis por:  educação, propriedade e direitos civis, administração da justiça, saúde, hospitais, recursos naturais, seguridade social e instituições municipais.

O prédio central do parlamento é também atração turística por sua arquitetura semelhante a um castelo, torre, relógio, biblioteca magnífica, documentos históricos importantes, móveis e decoração.

Destruído pelo fogo por duas vezes, tem à entrada uma chama perene com datas gravadas em volta. São de vitórias em guerras e avanços governamentais.

Imagens dizem mais que palavras.

Uma ida ao Canadá permitiu-me constatar “in loco” os resultados da sua organização parlamentar funcionando. Passeando pelo bairro das embaixadas; residencial dos parlamentares e governador geral; demais políticos, e seus representantes não observei serviço de guarda ostensiva ou cuidados excessivos com a segurança.  Nem tampouco vi mostras de riquezas de funcionários públicos, que se orgulham sim em trabalhar com o povo e pelo povo.

Não há mendigos, ou crianças abandonadas pelas ruas que já não tenham sido abordadas pelas entidades pertinentes, e abrigadas com respeito e dignidade.

As escolas são públicas e tão boas quanto as particulares de quaisquer partes do mundo; idem, idem os serviços médicos, de transporte coletivo e os de segurança. Tudo funciona a tempo e à hora.

_ Lá vem o caminhão basculante retirador de neve limpando as ruas para o trânsito. Antes, outro aspergiu sal para desmanchar o gelo. Cada habitante, com a pá, abre caminho até a porta de sua casa, pois sabe por onde deseja passar. Num país onde baixas temperaturas predominam, cristais salinos enfeitam as beiras das calçadas tal e qual as pedrinhas de brilhantes... que me vem à lembrança, de uma cantiga popular brasileira: “se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas de brilhante para o meu amor passar...”





--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".