maio 11, 2018

Meu buquê de flores

Por Elisabeth Santos



O meu buquê de flores para você tem flores de todas as cores e feitios. Todas são perigosas dependendo do ângulo do qual são observadas. Umas têm pólen bem à vista e podem fazê-lo espirrar; outras têm espinhos e podem fazê-lo sangrar; há também as venenosas... que ficam para cada pessoa imaginar.

Meus amigos e amigas sabem que aprecio flores e sempre as escolho pela aparência. Os buquês, os arranjos florais, ramalhetes e coroas que crio na minha floricultura nem sempre são apreciados. Uns acham que existem flores que não tem nada a ver com outras, mas eu continuo achando que naquela aproximação de desiguais uma sempre pega um pouco da luz, ou do perfume da outra ajudando a espalhá-lo no ambiente que foram escolhidas para estar, enfeitar, alegrar ou até mesmo aquietar a alma. Tudo isto acontece, principalmente, pelo respeito que tenho às épocas das floradas.

Sim tenho minha parte naturalista, embora conhecendo técnicas de conservação da flor que sonho misturar com outra na “corbeille” especial que oferto só uma vez ao ano.

Ao término de cada tarefa encomendada, no fechamento simbólico do laço de fita brilhante por si só, onde coloquei cachos do ipê florido em ouro, e tudo de bom que há no âmago do meu ser... o cartão!

As pessoas a encomendar o arranjo floral escrevem surpreendentes mensagens, que eu nunca fico sabendo a não ser, que depois venham me contar.

Não vêm à minha floricultura só para pôr-me a par da emoção sentida diante do apelo visual, e dos demais sentidos, ao receberem as flores; comentam da surpresa que foi a leitura do cartão; fazem suas encomendas...

Nesse mister sobrevivo, dali ganho meu sustento. Alguém que gostou, sempre traz mais pessoas interessadas na mistura artística que faço em criações florais para celebrar a vida em seus aspectos diversos.

Após uma troca inesperada havida na entrega de duas encomendas, fiquei muito mal. Sabia não ser a culpada na eventual troca. Sabia que não era erro tão evidente como entregar uma coroa funerária florida num dia de “Feliz Aniversário” e vice versa. Não se tratava de uma simples “saia justa” solucionável com um pedido de desculpas ou devolução do dinheiro. Era algo bem mais difícil de resolver, e sentia que cabia a mim intervir, para as partes envolvidas voltarem a se entender.

Tratava-se de problemas familiares, sendo um envolvendo herança. O assunto estava exatamente no cartão. O que quero deixar claro é que nada tinha a ver com as flores, o pólen ou com os espinhos. O veneno, se é que havia algum, também não era do arranjo floral da minha excessiva criatividade!
Sabendo da curiosidade de quem possa estar lendo, desvendarei o mistério até onde entendi: era veneno de língua humana, vingativa ou invejosa.

Um dos buquês ia com os seguintes dizeres: _ ponha onde preferir! - Foi entregue ao inventariante mor que havia lesado alguém que nem assinar assinou, mas foi considerado suspeito.

O segundo buquê foi entregue a uma idosa que colecionava jarras de flores sobre sua antiga e enorme mesa da sala. O cartão, também sem assinatura, dizia assim:

 _ enfia no mesmo lugar onde está sua riqueza...

Enquanto não resolvi a questão, tendo que antes ficar ouvindo as histórias dos dois presenteados com minhas lindas flores de triste destino, não sosseguei!

Assim sendo continuo no ramo, pois a firma que sempre fazia as entregas era terceirizada.

Terceirizei toda a responsabilidade final.

Lavei, e perfumei minhas mãos com água de pétalas de rosas.



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


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