O meu buquê de flores para você tem flores de todas as
cores e feitios. Todas são perigosas dependendo do ângulo do qual são
observadas. Umas têm pólen bem à vista e podem fazê-lo espirrar; outras têm
espinhos e podem fazê-lo sangrar; há também as venenosas... que ficam para cada
pessoa imaginar.
Meus amigos e amigas sabem que aprecio flores e sempre
as escolho pela aparência. Os buquês, os arranjos florais, ramalhetes e coroas
que crio na minha floricultura nem sempre são apreciados. Uns acham que existem
flores que não tem nada a ver com outras, mas eu continuo achando que naquela
aproximação de desiguais uma sempre pega um pouco da luz, ou do perfume da
outra ajudando a espalhá-lo no ambiente que foram escolhidas para estar,
enfeitar, alegrar ou até mesmo aquietar a alma. Tudo isto acontece,
principalmente, pelo respeito que tenho às épocas das floradas.
Sim tenho minha parte naturalista, embora conhecendo
técnicas de conservação da flor que sonho misturar com outra na “corbeille”
especial que oferto só uma vez ao ano.
Ao término de cada tarefa encomendada, no fechamento
simbólico do laço de fita brilhante por si só, onde coloquei cachos do ipê
florido em ouro, e tudo de bom que há no âmago do meu ser... o cartão!
As pessoas a encomendar o arranjo floral escrevem
surpreendentes mensagens, que eu nunca fico sabendo a não ser, que depois
venham me contar.
Não vêm à minha floricultura só para pôr-me a par da
emoção sentida diante do apelo visual, e dos demais sentidos, ao receberem as
flores; comentam da surpresa que foi a leitura do cartão; fazem suas
encomendas...
Nesse mister sobrevivo, dali ganho meu sustento.
Alguém que gostou, sempre traz mais pessoas interessadas na mistura artística
que faço em criações florais para celebrar a vida em seus aspectos diversos.
Após uma troca inesperada havida na entrega de duas
encomendas, fiquei muito mal. Sabia não ser a culpada na eventual troca. Sabia que
não era erro tão evidente como entregar uma coroa funerária florida num dia de
“Feliz Aniversário” e vice versa. Não se tratava de uma simples “saia justa”
solucionável com um pedido de desculpas ou devolução do dinheiro. Era algo bem
mais difícil de resolver, e sentia que cabia a mim intervir, para as partes
envolvidas voltarem a se entender.
Tratava-se de problemas familiares, sendo um
envolvendo herança. O assunto estava exatamente no cartão. O que quero deixar
claro é que nada tinha a ver com as flores, o pólen ou com os espinhos. O
veneno, se é que havia algum, também não era do arranjo floral da minha
excessiva criatividade!
Sabendo da curiosidade de quem possa estar lendo,
desvendarei o mistério até onde entendi: era veneno de língua humana, vingativa
ou invejosa.
Um dos buquês ia com os seguintes dizeres: _ ponha
onde preferir! - Foi entregue ao inventariante mor que havia lesado alguém que
nem assinar assinou, mas foi considerado suspeito.
O segundo buquê foi entregue a uma idosa que
colecionava jarras de flores sobre sua antiga e enorme mesa da sala. O cartão,
também sem assinatura, dizia assim:
_ enfia no
mesmo lugar onde está sua riqueza...
Enquanto não resolvi a questão, tendo que antes ficar
ouvindo as histórias dos dois presenteados com minhas lindas flores de triste
destino, não sosseguei!
Assim sendo continuo no ramo, pois a firma que sempre
fazia as entregas era terceirizada.
Terceirizei toda a responsabilidade final.
Lavei, e perfumei minhas mãos com água de pétalas de
rosas.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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