Por Elisabeth Santos
Na história tecnológica ficará para sempre
gravado o avanço que representou para o conforto das pessoas o telefone
celular. Se haverá uma página para relembrar dos sufocos que ainda enfrenta-se
no século XXI... não se sabe. O mais provável é, que no futuro, só exista
espaço para os dois pontos e uma lista de etapas mais ou menos assim: celular
tijolão, tijolinho, multi funções, micro celular e o implantado na cabeça das
pessoas. Nas crônicas literárias da época sim serão pesquisados fatos difíceis
de acreditar que pudessem estar acontecendo em 2013, numa cidade evoluída de 2.000.000 de habitantes, localizada na região mais desenvolvida do Brasil.
A comunicação da telefonia móvel depende de
torres das operadoras do serviço muito bem pago posto que inadequado para as
populações mais distantes de serviços básicos. Isto está claro. Então não basta
um oi ou olá, mas estar vivo na cobrança do custo benefício tim-tim por tim-tim.
Pelo noticiário da TV sabe-se de lugarejos
onde se faz necessário subir no muro do quintal para comunicar-se via celular.
Em várias outras localidades sobe-se, na escada, na laje ou numa árvore. Subir
no sofá, alcançar-se a janela aberta do apartamento do nono andar é bem
arriscado, mas por vezes, essencial.
Já que o técnico chamado a reativar o sinal
do telefone fixo era da mesma operadora do telefone móvel, foi testada através
de amostra estatística domiciliar, a viabilidade dos moradores daquelas alturas
do prédio poder contar com DD, DDD ou DDI.
Compareceu ao endereço depois de
insistentes solicitações efetuadas de dentro do carro nas longas horas de
engarrafamento o mais competente, atencioso e educado dos funcionários. O
diálogo a seguir foi se desenrolando:
_ Vim solucionar o problema de um telefone
fixo que ora se encontra surdo mudo.
_Queira entrar, por favor. O aparelho em
questão é o que está fixo na parede, ao lado do interfone a manter-nos em
contato com o porteiro físico.
Passados alguns minutos:
_ Agora está funcionando conforme poderá constatar.
Por favor, queira assinar para mim esta ordem de serviço realizado.
E depois de verificado e assinado, a
solicitante delicadamente sugeriu ao técnico que diagnosticasse também seu
“celular/fixo” na janela, ao que ele atendeu prontamente.
_É... realmente não dá sinal algum...
_Moço, não basta estar próximo da janela
aberta com o celular ligado ao alcance do ouvido. É preciso estar com a cabeça pro
lado de fora.
_Puxa! Todo este risco?
_Sim. Desta maneira, tentando contatos com
meus clientes, já perdi...
_Chamadas?
_Não. Perdi alguns celulares esborrachados
lá em baixo.
_O risco é maior que o benefício pelo que
vejo. Já tentou o orelhão da esquina?
_Diversas vezes. Quando está inteiro até
que me serve bem.
_Bem... agora entendo porque minha operadora
recebe tantas reclamações, e é campeã de queixas no serviço de defesa do
consumidor. Poderíamos resolver o caos assim: “desfixar” o telefone fixo da
parede; botar este fixo no lixo (ou no “líquiço”). Fixar o telefone móvel na
grade da janela, ao ar livre. Utilizar o orelhão da Padaria do outro lado da
rua para evitar torcicolo conversando sentado no encosto do sofá com a cabeça
para fora da janela. Aguardar chamadas pelo fone móvel “fixo na janela”
respondendo monossilabicamente; responder torpedos (que teria que ser com ambas
as mãos) através do batuque de um tambor de longo alcance seguro entre os
joelhos evitando maiores danos no caso de queda do instrumento, e...
_ Esquecer a modernidade.
_ É isto!
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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