setembro 22, 2017

Cemitério de pipas


Por Elisabeth Santos
Para onde vai a pipa da criançada quando não agarra no fio de eletricidade do poste?

Se vai cambaleando e pousa no chão, é achada e devolvida ao voo livre pelo céu aberto.

Se dois, ou mais, empinadores de pipas brigam pela posse daquela que fez pouso forçado em território desconhecido... pode ser que o brinquedo seja rasgado ao meio. Assim sendo, nem para um, nem para outro.

Que bons ventos levem bem longe as pipas, trazendo-as de volta aos seus legítimos donos, manobradores de linhas e carretilhas! Porque... caindo em meu quintal... poderão permanecer lá onde ninguém vai tirar: no alto das árvores.

Melhor pegar rápido o material e fazer outra, aproveitando a linha que não se perde totalmente.

Bola é brinquedo para equipe. Nas férias escolares, aparece uma aqui, outra ali, nos canteiros do meu jardim, e cada vez é uma criança que vem buscar a bola, para dar continuidade ao jogo.

Pipa (arraia ou papagaio) é brinquedo individual, para tempo seco, e ventania. Às vezes a criança pede para procurar sua pipa em minha propriedade. Sai agradecida e feliz ao achar. Para mim pode ser um simples pedaço de papel, com rabiola, e linha. Para ela é bem mais importante.


Por isso, quando olho as copas das árvores, e vejo o que restou daquelas obras de arte infantis comparo com um cemitério. Aquilo que teve vida um dia, mesmo que emprestada, descansa na paz da folhagem. As de papel fininho deixaram apenas uma estrutura de varetas de bambu; as de plástico, denunciam sua última morada, brilhando à luz do sol, gotejando quando chuvisca; as agonizantes deixam de lembrança uma palavra, letra, cor do time do coração e até logomarca de um país desconhecido...





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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