maio 26, 2017

Correio eletrônico

Por Elisabeth Santos

A viúva foi confidenciar com a melhor amiga sobre uma mensagem recebida pelo computador. O remetente era o falecido. Ambas assustadas procuraram analisar a luz da razão: poderia ser alguém utilizando o endereço eletrônico daquele, que partiu para o andar de cima há um ano, mas isto seria ilegal. E se fosse uma brincadeira, seria desrespeitosa com o morto. As amigas não faziam ideia de quem poderia ter tamanho mau gosto! Ainda mais que a memória do computador havia sido descarregada e a utilização de contas, no nome do extinto usuário canceladas.

Por fim a destinatária do email decidiu telefonar para todas amigas, para ouvir outras possibilidades. Alguém falou na hipótese de existir, na mesma rede social outra pessoa, com o mesmo nome do seu marido.

A seguinte a receber o telefonema sugeriu uma falha técnica; houve quem falasse de vírus, e a última... Afirmou com todas as letras que aquilo só poderia mesmo ter vindo... do além! E teve curiosidade sobre o título da mensagem eletrônica. Não tinha!

Então quis saber o assunto tim tim por tim tim.

E era sem assunto!

Estas lacunas fortaleceram sua ideia, do remetente ser mesmo o falecido.

E a viúva, um tanto desanimada com tantas incertezas, segurou-se naquela tábua de salvação, elucidativa do que poderia estar acontecendo.

E ouviu o seguinte: seu marido sentia muito sua falta, e a queria ao seu lado. O melhor seria não responder a carta eletrônica, para que ele desistisse daquela sinistra ideia. Assim sendo, sem a possibilidade de encontra-la, desistiria.

Afinal, no dia do casamento ambos ouviram do celebrante:

_ Até que a morte os separe! – portanto o contrato ia só até ali mesmo.



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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