novembro 13, 2020

Muito inteligente

Por Elisabeth Santos


A menina foi à aula do jardim de infância nos idos de mil novecentos e cinquenta e voltou pra casa, feliz da vida, contando a todos da família:

- A professora disse que eu sou muito “intelijada”!

De uma mistura de prefixo e sufixo verbalizou o que os adultos daquele lar sabiam de sobra: - Ilzinha nasceu inteligente e criativa e precisava de espaço, liberdade, e da paciência dos demais à sua volta para matar todas suas curiosidades infantis.

Passado mais de meio século lá estava ela às voltas com o computador, e seus avanços “internáuticos”.

Certo dia percebeu algo estranho semelhante à brincadeira de “pique esconde” no computador utilizado por ela diariamente. Este vinha com respostas aos seus questionamentos anteriores assim que aberto na internet. Achou que aquilo poderia ser uma brincadeira de mau gosto de amigos de suas redes sociais. Não era, mas não conseguia detectar a fonte de onde jorravam.

E a Dona Ilza resolveu em nome de suas atividades de pesquisa, leitura e escrita... tocar o barco, independente dos anúncios que apareciam no decorrer do dia ao computador.

Não eram só anúncios comerciais. Apareciam matérias sobre assuntos que lhe interessavam... Se bem, que repletos de cookies. Até vinham esclarecimentos sobre a utilização destes, mas eram tantos que chegavam a prejudicar a qualquer usuário da rede. Principalmente idosos.

Certo dia, impaciente com tantas mensagens intrometidas em sua vida de leitora e escrevinhadora resolveu chamar um técnico e saber direitinho o que poderia estar acontecendo de errado ali. Ele fez o trabalho dele certinho, dando uma limpeza, atualizando antivírus, e instruindo-a quanto aos cliques perigosos por mares nunca dantes navegados por ela.

Dona vovó chegou a perguntar ao profissional dos computadores se estaria ela sendo sondada. À resposta negativa do moço, desestressou. Dali a pouco ele declara convincente:

_ Tudo que a senhora vê agora, e a intriga, vem da Inteligência Artificial.

- O quê? Mais esta agora para eu aprender. Só faltava isto.

- Não. Sinto ter que dizer-lhe que ainda vem muito mais coisas por aí. Prepare-se Dona vovó Ilza. Não se trata somente do que a nossa vã filosofia sonhava. Agora temos Física, Química e todas as outras ciências conhecidas na Terra envolvidas em trabalhar para conhecermos mais.

- Então... que Deus nos acuda, e venha o que vier de proveitoso para o bem das outras gerações!




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


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