julho 10, 2012

Gerente facilitador

Os gerentes brasileiros sempre me pareceram despreparados para lidar com as pessoas e suas ideias. Algumas vezes tenho a impressão de que foram escolhidos pela maior quantidade, e não pela qualidade, dos gráficos e das planilhas que apresentaram alguns meses antes da promoção.
Esta semana, lendo o artigo1 de uma universidade, descobri que os brasileiros são mesmo classificados como maus gerentes. Guardadas as diferenças da regulamentação trabalhista, que no caso de muitos países também contribui para as más práticas, algumas estatísticas mostram que os países em desenvolvimento tem pior gerenciamento do que os países desenvolvidos. Esta pesquisa incluiu empresas de varejo, escolas e hospitais localizadas em mais de 20 países.

Em geral, tratando-se de modos de gerenciamento, as empresas brasileiras se posicionam junto às chinesas (2,71 pontos) enquanto Inglaterra, Austrália e França ficam em torno dos 3,02 pontos. Neste quesito os Estados Unidos têm os melhores estilos e pontos (3,35). Falando especificamente da manufatura, a indústria no nosso país se iguala à indiana tendo as piores práticas gerenciais, que incluem a falta de metas, melhorias ou promoções e ainda, nenhum sistema para lidar com o repetitivo mau desempenho dos funcionários. Interessante notar que em todos os países pesquisados os altos níveis educacionais estão relacionados com os melhores níveis de gerenciamento.

Entretanto, muito tempo antes de ler esta pesquisa eu consegui por mim mesma reconhecer uma grande diferença de comportamento de um gerente americano em relação ao funcionário. Aconteceu quando comecei a trabalhar nos Estados Unidos, foi um fato simples, mas marcante que relato aqui com a clara intenção de instigar e, quem sabe, incentivar algumas mudanças de comportamento dos líderes brasileiros.
Em um dia comum dentro da rotina do escritório meu chefe me chamou para uma conversa (não uma reunião) e disse que seria breve. O começo já parecia estranho e meu histórico me fez pensar que receberia algumas instruções de trabalho, o que faria a partir de agora, como proceder em certos casos, com quem falar certo?! Nada disso! Ele me surpreendeu dizendo que eu deveria pedir-lhe tudo o que eu precisava para desempenhar melhor minha função e que queria muito ouvir as minhas ideias, fossem elas relacionadas à melhoria do meu trabalho, o trabalho de outras pessoas ou outra sugestão que eu tivesse.
Naquele momento eu me senti como qualquer ser humano ao ver um sonho realizado, “Uau! Isso existe mesmo e foi sincero.”. A surpresa não me permitiu lembrar ou falar nada específico naquele momento, mas tranquilamente ele disse que estaria esperando as minhas ideias no momento que fosse possível ou necessário.
Precisei de um tempo para reformular meu posicionamento em relação às minhas tarefas e só então apresentei o que achava interessante implementar. É claro que minhas ideias e pedidos foram avaliados, sendo alguns aceitos de imediato, outros reformulados e outros não foram adiante por vários motivos. Mas eu não poderia deixar de comentar como foi ouvir algo tão diferente do que conheci trabalhando no Brasil por tanto tempo.
A respeito das tais instruções de trabalho, posso dizer que essa conversa nunca aconteceu e que não acontece mesmo por aqui. O gerente espera que o funcionário tenha uma posição ativa em relação ao trabalho que desempenha e dificilmente vai dizer o que fazer ou como fazer uma tarefa de modo tão específico como vemos no Brasil.

1. Harvard - Management Practices Across Firms and Countries, Dezembro, 2011.


Escrito por Isabela, publicado no blog R|R Gestão de Pessoas em julho de 2012.

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