setembro 25, 2020

Cemitério III

Por Elisabeth Santos 

... porcaria

Nunca tinha visto tantas pessoas falarem tão abertamente da morte, como nesse ano de dois mil e vinte.

Bastaria dizer que a TV quis contar um pouco da vida de cada um dos que vieram a óbito pela Pandemia COVID 19, e a tarefa não foi terminada! A mídia quis mostrar que não eram somente números, e sim pessoas que tendo ou não família foram importantes para alguém, e a vida de cada um que partiu importava, não só a cada um deles, mas ao nosso país inteiro sim. Nem que fosse pela exorbitância do número estatístico a ser registrado historicamente, que não estão sendo simples números em ordem crescente têm um rosto mostrado em foto, viveram uma história de amor, de esperança, de alegria ou de dor. Eram pessoas como nós que ficamos, mas tiveram que partir às pressas.

Quem achava ter visto de tudo um pouco, desconhecia que o ruim ainda poderia piorar. Não foi bomba, terrorismo ou guerra a derrubar soldados dispostos a matar ou morrer. Nem precisou virem seres de outros planetas conforme ficção científica. Nada de visível, palpável ou previsto. Certo dia ouvimos o alerta de Pandemia e o jeito de viver de cada ser humano, foi nivelado por baixo: ninguém entra, ninguém sai; as aglomerações humanas de qualquer tipo ficam proibidas; vamos evitar contatos porque o vírus poderá pegar em qualquer indivíduo, causando sintomas perceptíveis ou não.

O uso de máscara para nariz e boca impede, pelo menos, que se passe a doença de um para outro. A higienização frequente das mãos é a barreira para o vírus não se agarrar. Evitar ao máximo levar as mãos ao rosto assegurará o impedimento ao acesso do vírus às vias respiratórias.

São alguns dos cuidados básicos para quem permanece em casa a maior parte dos dias, saindo apenas o essencial.

Para quem é obrigado a ir de sua residência para o trabalho, cuidados redobrados: não utilizar ferramentas de colegas; trocar de roupas ao retornar; ter calçados separados para se usar num e noutro ambiente; tomar banho com água e sabão; e evitar-se contatos com objetos que chegam de fora sem a devida limpeza, ou que fiquem resguardados por um tempo.

Com a recomendação de se evitar aglomerações, escolas, templos, comércio, esportes, lazer, dentre outras possibilidades tiveram que ser paralisadas por tempo indeterminado. Prevista sim uma flexibilização à medida em que os recursos necessários ao atendimento médico hospitalar estiverem disponíveis a todos infectados.

Muita coisa aconteceu e acontece em meio ao inesperado ataque. Depois do pico da Pandemia pelo Corona vírus está prevista uma mudança de hábitos nada agradável ao povo brasileiro. O estilo de vida que virá ao país e está sendo chamado “O Novo Normal” baterá de frente com hábitos arraigados à toda população de um território de dimensão continental, a abrigar, além dos seus primeiros habitantes, povos vindos de toda parte do mundo. Era do conhecimento nosso: “quem se adaptar, terá mais chance de sobreviver”, mas a facilidade, ou dificuldade no aceite às normas, será vinculada à qualidade de vida que se deseja. Muito difícil para a maioria.

Aos mais precavidos coube preparar o necessário para o que desse e viesse. Em tempos idos, já teriam o hábito saudável da organização, então ficou natural irem ao cemitério escolher o local da sua última morada. A idade avançada colocou-os entre os que correriam maior risco de morrerem numa pandemia.

Aquele baú, cantinho do armário, ou gaveta para roupa adequada a ser usada numa possível internação hospitalar foi acrescida do vestuário escolhido para um defunto.

Muito realismo ou pessimismo? Ninguém ousaria contestar. Soaria falso. O jeito melhor de lidar com o querido familiar, que sempre preparava com calma a bagagem necessária a cada viagem, era estar ao seu lado, ajudando-o no que pedisse.

Documentos pessoais separados em lugar de fácil acesso? Por que não? Afinal não os trazia no bolso há meses!

Aquele que guardou em algum lugar, mesmo que fosse na memória meio falha, uma lista de entretenimentos para sua “Última Idade”, e percebendo que ela ali se apresentava, antecipou-se.

Rever suas fotos foi sua primeira medida. Ajeitou um cantinho do quarto e iniciou o processo descendo caixas, e mais caixas do alto da estante. Agradeceu a si próprio ter retido tantos momentos bons em papel fotográfico e slides, para rever e compartilhar algum dia. Sendo a organização uma qualidade sua, em poucos dias viajou no tempo e terminou a tarefa com satisfação. Ainda colou em álbuns com os devidos títulos, e suas apreciações manuscritas, a qualquer ocasião digna de registro. Preferiu não usar o computador pois sua letra ainda era boa.

Livrar-se de objetos ora inúteis tem sido mais difícil para qualquer pessoa. Umas por apego. Outras por perceberem que retirar tralha, descartando-a em locais adequados, não é fácil nem barato. Em tempos de pandemia então, mais dificuldade pelo risco do contato com profissionais, que não são habituais ao seu convívio.

Livros com romances inesquecíveis poderão e serão relidos na internet em qualquer tempo da vida. Não precisando guarda-los é só doá-los.

Adornos para decoração ambiental vão para o Brechó juntamente com acessórios, enfeites e lembranças materializadas. Em cada um, uma parada para a recordação do Natal, ou aniversário em que foi trazido com carinho. Não há outra solução mais adequada no momento.

E quando nada mais restar na lista do que rever com saudades dos tempos idos?

Para uns será escrever sobre sua experiência do hoje jamais imaginado, visto ou vivido!


Clique aqui e role o cursor para ler outros Contos da Beth.

Clique aqui para ler o livro da BethAssombradas.


--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

setembro 18, 2020

Os nove meses do neném

 Por Elisabeth Santos


Depois de nove meses no ventre materno o neném se desenvolve mês a mês em berço esplendido, repleto de amor e cuidados. Chegando aos nove meses de idade crescendo, e desenvolvendo habilidades surpreende a todos, que não puderam acompanhar de perto as etapas. Agora ele reconhece cada pessoa que lhe é mais próxima. Para cada uma delas balbucia coisas ininteligíveis para adultos inábeis. Estende os bracinhos, sorri, apronta uma gritaria de pura satisfação ou... muito pelo contrário. Vira o rostinho, esconde-se, faz charme de quem não identificou aquela pessoa que se apresenta depois de “looongooo” tempo de ausência.

O bebê em questão, engatinha para pegar seu brinquedo preferido, fica em pé segurando na grade do berço e ensaia uns passinhos, balbucia gritando para ouvir sua própria voz, ameaça chorar e fazer birra se não apareceu quem ele quer que apareça. Essa pessoa pretendendo tirá-lo da jaulinha, digo, do bercinho, primeiramente lhe faz festa. Reconhece seu esforço de comunicação à distância. É tudo que a criança quer após o soninho da tarde e as atividades por ali mesmo: -Ter a fralda trocada, mudar de ambiente, esbanjar alegria com sua prosa. Adultos em torno na tentativa de decifrar seu idioma, puxam “a brasa para sua sardinha” afirmando:

- Falou babá!

- Falou papa!

- Mamã, apa, aba, dé e... dgidjei! – todos riem das gracinhas do bebê e ele assim incentivado vai aumentando o repertório de sons reconhecíveis ou indecifráveis.

É o centro das atenções!

Ele tem certeza disso!





--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

setembro 11, 2020

Mesversário Ponto Oito

Por Elisabeth Santos



E chegou o dia em que o bebezão banhou-se assentado em sua banheira para mostrar a todos da casa ter conseguido sentar-se sem apoio. Foi aplaudido, elogiado, recebeu um mundo de carinho extra e muitos sorrisos. A bem da verdade ele não cabia mais deitado na banheirinha: com seus pezinhos ágeis derrubava os frascos de xampu e sabonete líquido. Agarrava-se fortemente às laterais da banheira para tentar sentir-lhe o gosto. Talvez para coçar a gengiva onde apontaria o primeiro dente...

 Adultos podiam imaginar, não examinar. O neném fechava fortemente a boca a qualquer tentativa de investigação. E todos à sua volta querendo ser o primeiro a ver a pequena grande novidade apontando!

O outro avanço, foi antes de completar seus oito meses. Nem assentava sozinho e queria experimentar imitar os adultos, ficando em pé. Ia frustrar todo mundo. Estavam ansiosos para vê-lo engatinhar. Tudo bem que cada filhote tenha seu próprio ritmo de desenvolvimento, mas pular etapa ninguém ali estava preparado para tal feito. É muito lindo ver o engatinhar de uma criança para alcançar seu interesse.

Quanto aos brinquedos próprios para sua idade, devagar vai trocando por outros nada convencionais. Bate as mãozinhas na superfície de cada um para ouvir sons diferentes. Joga as caixas, latas, e tampas do alto da cadeira de papinha só para ouvir o barulho. A babá ou quem faz o papel dela, está atento.

Quanto a papinha, ou alimentação sólida, bem esmagada, o rapazinho mostrou suas preferências logo de cara. Nada de frutas ácidas, verduras amargas.

 Legumes separados, carne picadinha, caldo de feijão ele gosta e rapa o prato. Aliás, entre uma colherada e outra... reclama. Bem debaixo de seu olhar, longe o suficiente de sua mãozinha ágil, está a tigelinha cheia de alimento. O tempo entre uma colherada e outra é mínimo, e assim mesmo o neném resmunga.

O que será que se passa em sua cabeça? Ninguém sabe ao certo...






--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

setembro 04, 2020

Avó e neto

Por Elisabeth Santos


Muito fofo o netinho da vovó mais coruja do pedaço!

Já tem dois dentinhos e gosta de exibi-los sorrindo muito. Não para todos. Só para os conhecidos porque progrediu e já distingue rostos familiares de feições desconhecidas.

Tem o lado ruim... é capaz de chorar ao rever alguém conhecido, que desaparecido ficou no período de pandemia. Tem o lado bom... não pede colo para quem não conhece. Assim sendo, às vezes chega a se mostrar envergonhado e a gente acha que está fazendo charme ao esconder o rostinho com as mãos ou fechar os olhos e ir abrindo-os devagar, para sondar se a pessoa lhe é simpática ou não.

Na hora da refeição também demonstra suas preferências: o almoço vai bem com caldo de carne ou de feijão. No jantar, uma sopa de letrinhas com legumes. Gosta de uma variedade de frutas, sem ficar no repeteco para não enjoar. Por enquanto nada de biscoitos e guloseimas, então é melhor não ver outras crianças lanchando. Fica curioso para saber o que elas mastigam com boca boa.

Falando de curiosidades, ao completar oito meses e aprender a sentar-se e manter-se assentado sozinho, o neném quer participar de tudo que acontece ao seu redor. Estica o pescoço acompanhando com o olhar atento o que fazem as pessoas ao seu redor. Na hora de brincar quer objetos diferentes que façam barulho. Não bastam os brinquedos da sua caixa. Alguns utensílios de cozinha servem muito bem nessas horas. Quem já teve crianças em sua casa sabe como é atraente o celular, as chaves e até um bom livro. Melhor explicando, não precisa ser de gravura, ou leitura. Tem que ser livro resistente!

Outras novidades: sua banheira ficou pequena; vovó quer vê-lo assentadinho, mas há uma insistência em firmar-se de pé; faz festa para ir junto com quem sai de carro; aprecia o vento balançando as árvores e flores do jardim. Presta atenção no cantar dos passarinhos...

Vovó sempre vai achar que a alegria genuína é ter seus netinhos bem próximos! 




--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".