janeiro 15, 2019

A nuvem e a passageira

Por Elisabeth Santos

Quando além de passageira nesta vida sou mais uma passageira num avião, fico espiando pela mini-janela de um rosto só. Observo a paisagem urbana sumindo... a paisagem rural surgindo, e depois as nuvens no azul do ar condensado em volta da Terra. É a visão sublime do lado oculto de uma, duas, várias nuvens...
Se miúdas, numerosas, com volume explícito e arredondado se assemelham à espuma de poluição que cobre um ribeirão de neve lá em baixo: detergente biode“sa”gradável que some pelos ralos das pias de cada moradia terrestre! Se sumisse de verdade seria bem melhor, mas some aqui e reaparece ali.
E eu não posso perder o foco nas nuvens que observo do alto.

Olho novamente, e o relevo de montículos que se juntam são: cordilheiras, cânions, desfiladeiros, penhascos... num chão longínquo que nem aparece. Fica sugerido pela minha ótica iludida pelo que se acostumou a ver.

Entre um cochilo e outro, abro os olhos para distinguir costas de carneiros numa perspectiva em que vão enfileirados, diminuindo, diminuindo à medida que meu olhar se esforça para enxergar o último deles.

Aonde vão os carneiros brancos sobre o azul do oxigênio? Se, estão atravessando um grande lago deverão sair logo dele, pois aquela lã toda de seus lombos irão encharcar-se, e leva-los ao fundo.

De flocos de lã, a icebergs e nevascas, vou olhando as modificações até cansar e dormir. Dormir e sonhar com claras de ovos espumando numa batedeira gigantesca donde sairá o suspiro docinho para cobrir o bolo de casamento do Sol com a Lua. E as asas da aeronave furam esse bolo para começar a descida.

Agora sim cores, de cinzenta a esverdeada, linhas e formas vão surgindo logo abaixo. É a vegetação natural ou agrícola; são caminhos de todo tipo indo e voltando não sei para onde; são coberturas de prédios, telhados de casas, praças, quintais e jardins.

Cheguei!






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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia". 

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