janeiro 29, 2021

A primeira primavera

 Por Elisabeth Santos


_ Já se passaram as quatro estações do ano e eu completo um ano de vida!

A gente sente e lê no brilho dos seus olhinhos, o quanto ele está feliz com a grande aventura que é viver. Rafael não sabe se expressar com palavras, mas dá a entender aos que estão ao seu lado, o quanto gosta do nosso mundo.

Passou pelo período de cólicas, experimentou vacinas doídas, fez controle de desenvolvimento na clínica, foi ungido na pia batismal...

Atentou, e se encantou com outros seres vivos a quem foi apresentado. Divertiu-se bastante.

A cada novidade pareceu perguntar: - O que é isso?

A cada resposta ouvida, mas não compreendida, fez sua própria classificação através do contato com a boca. Aprendeu o sim e o não, imitando a cara da “gente grande” cuidadosa de sua integridade física. Aprendeu e imitou, mas não conseguiu ainda obedecer. A gente sabe que ainda não é a hora certa, mas não deixa de dar exemplo, e se alimenta junto com ele para mostrar-lhe... como crescer saudável.

E daí que o Rafael fez careta para algumas frutas, comeu bem os legumes, e com a própria mão levou à boca ovo cozido e carne em pedacinhos. Sem dispensar totalmente o leite materno, bebe água, suga a mamadeira para o complemento alimentar.

Quando o menino, segurando na grade do berço ficou em pé, mesmo que meio bambo, foi uma festa para os fotógrafos de plantão: madrinha, tios e avós corujas de carteirinha!

Ao seu balbuciar ininteligível todos foram interpretando o que gostariam de ouvir:

- O neném pronunciou meu nome!

- Não. Ele me chamou, isto sim!

- Que nada. Até bico fez para dizer “vovô”.

E todo mundo entendeu o que quis, e ficou certo disto.

Só sei que o filhote de gente é muito esperto mesmo. Sabe quando alguém vai sair, e estende os bracinhos para ir junto passear. Pede um pedaço do que estão a mastigar perto dele. Engatinha para perto de objetos não identificados como brinquedos. Enfim, se sente atraído por coisas diferentes.

É um explorador nato, que vai aprender através de uma curiosidade que parece não ter fim.

Parabéns criançada que faz um ano de vida no mês de agosto! Tudo há de ser ao gosto de vocês. São os meus votos!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

janeiro 22, 2021

Escrevendo novela

Por Elizabeth Santos

   


Se o produtor de um filme quer sucesso de bilheteria tem que estar atento às imagens que precisa mostrar; as necessárias a passar realismo ao espectador; às que apenas sugerem acontecimentos, e por fim, aquelas imagens misteriosas a despertar a curiosidade, e manter o interesse para assistirmos até o final.

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Então aparece um cara montando cavalo, escondendo um punhal no cano da bota, e pegando a estrada no galope ligeiro... e a gente deduz que vai haver briga.

Dali a pouco, num suntuoso cenário interno, de adornos, flores e jóias surge uma família de três gerações, e a conversa é sobre uma mudança de país. Fácil, fácil quem assiste ao filme sabe que ali estão pessoas ricas, e novidades surgirão.  

Se em determinada cena é mostrado o galã roubando um beijo da mocinha é para o público daquele filme entender, que ali está um personagem ousado. Nem precisará roubar outros beijos.

E daí, numa escuridão chuvosa, um vulto se move sorrateiramente, esbarra e derruba algo que pode ser uma lixeira! No cinema ninguém consegue disfarçar o susto, aliviado somente quando em determinada janela brilha uma luz, e...

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_ e... o quê?

Nestas poucas linhas, temos elementos suficientes para desenrolar um filme completo de, mais ou menos, duas horas de duração.

Novela não é assim! Novela é algo enovelado semelhante a um novelo de fio que poderá desenrolar e tecer tramas de todo e qualquer tipo sob um título, ou uma etiqueta só.

Novela tem várias horas de duração, é dividida em capítulos recheados de episódios, muito mais personagens, histórias dentro de uma história maior, e diversos tipos de enfoque.  Ela vai ao sabor da onda, digo ao gosto do(a) diretor(a), segundo o índice de audiência. Tem muitos patrocinadores, pois existem alguns embutidos que ofertam indumentárias, adereços, produtos perecíveis, serviços e marcas, que aparecem aqui e ali, e até inoportunamente.

Uma novela poderá surgir de um fato corriqueiro. Aos roteiristas caberá a contextualização, a continuidade, a finalização etc. O imprevisto está à espreita. Pode acontecer de um personagem secundário crescer na preferência popular e passar para primário. De um outro ter que sair de cena, mudando-se para local ignorado, ou até morrer de mal súbito, por não estar merecendo audiência.

Se o problema é prender a atenção do público, filma-se mais de um final. Daí algum meio de comunicação divulga o que será desvendado no último capítulo, e é só surpreendê-lo utilizando a segunda, a terceira ou a quarta opção, já pronta.

Outra coisa, que às vezes acontece é a novela precisar ser emendada devido à data propícia ao início da outra, que irá substituí-la. Mal (ou bem) comparando, pensemos no fio de uma linha fina, sedosa, de uma cor resplandecente emendado num fio de outro novelo, sem nada em comum com o inicial, só por falta de matéria prima... Pode acabar em um terrível desastre! Por isso mesmo, inicio de novela é tão monótono. Aparece um mundo de coisa que poderá gerar a liga com a extensão necessária naquele momento crucial: alguém mexendo numa velha caixa de fotografias, bem lá no iniciozinho dará origem a um assunto novo; ou uma simples paisagem; pessoa que retorna; ponto de vista, opinião, ou mesmo um sentimento que mude. Quase tudo será válido desde que se respeite o espectador.

Não vale mudar o que o personagem demonstrou ter como característica principal e virá-lo do avesso, para desvirá-lo em dez dias, só para seguir o calendário.

Seria como encher linguiça com carne estragada.



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

janeiro 15, 2021

Sociedades Protetoras

Por Elizabeth Santos


Embora difícil, ainda encontramos pessoas altruístas, que se preocupam com animais domésticos abandonados. Creio serem aquelas em muito menor número que estes, e por essa razão ainda nos deparamos com tantos casos sem solução.
Por Elisabeth Santos


Embora as soluções para tais problemas venham surgindo, e sejam bem divulgadas nas redes sociais, parece estarmos longe de um “basta definitivo” no abandono. Quem possui cães ou gatos em idade adulta terá que sujeita-los à castração, se não deseja responsabilizar-se pela metade da ninhada. Eles, os filhotes, irão aparecer em algum local das proximidades, e tem chance da paternidade reconhecida sem DNA.

Gatos são bem mais difíceis de serem mantidos confinados. Ágeis e doidinhos por liberdade vão sair namorando pelo mundo afora, ao menor descuido dos seus donos.

Parabenizo Organizações Não Governamentais, que a cada dia tem novas boas ideias na proteção dos bichinhos sem teto, sem alimento, sem tratamento de saúde, sem donos responsáveis enfim.

Esses seres humanos munidos de compaixão, que colocam alimento e água às criaturas da natureza; montam casinhas a serem distribuídas em pontos estratégicos de áreas urbanas; recolhem animais de rua em canis; promovem feiras de adoção; cuidam deles como se fossem seus pets queridos!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

janeiro 08, 2021

Juro que vi e vivi

Por Elisabeth Santos

Não tive o gosto de conhecer meus ‘vôs paterno e materno que faleceram jovens, por assim dizer. Avó, só conheci a materna. Tínhamos contato apenas viajando de Minas para São Paulo, e vice versa. Quem nunca experimentou férias na casa da vovó, deve imaginar a coisa melhor do mundo infantil. Já disseram que avós são mães com açúcar, e eu afirmo que sim. Nos idos de 1950 a 60 minhas inesquecíveis férias foram com ela. Até na hora de passar iodo no machucado da gente que caia da jabuticabeira, vovó Mariana achava um sopro para amenizar a dor. Ela era doce, mesmo quando ralhava. Aquele tanto de neto e neta correndo de lá para cá em seu jardim, quintal e porão, de vez em quando esbarrava em suas orquídeas, e merecia o pito. Muito raro de acontecer, mas no desajeito da pré-adolescência, quando desconhecemos a extensão de braços e pernas, aconteceu sim.

 Ir à casa da vovó, acompanhando mamãe numa visita de fim de semana só para matar saudades, era um importante acontecimento. Eu curtia desde o momento de arrumar mala, acordar às quatro horas da manhã a pegar o trem de ferro, a viagem todinha pela serra da Mantiqueira, e... (suspense) a chegada à estação donde tomávamos lugar numa charrete e mamãe coordenava: - Rua Cinco, passando pelo centro, por favor.

Já existia táxi com cavalos dentro do motor a gasolina, mas criança que eu era, preferia o bicho de carne e osso a puxar minha condução. Acho que, naquele instante, por poucos minutos me identificava com aquele personagem ilustrando livro infantil, numa montaria, ou carruagem. Era de uma emoção vibrante jamais esquecida, percorrer os extensos quarteirões até o destino certo.

 Tocando a campainha, a porta se abria num clique.

Era minha querida vovó aparecendo no alto da escada de entrada, que simplesmente puxando um barbante, destrancava a porta lá embaixo. O truque estava no barbante que acompanhava o corrimão, e acionava o trinco a que estava amarrado. Como esquecer a magia desse instante?

As conversas de mãe e filha eram intermináveis, e eu ia direto ver a Benedita a cozinhar o almoço, arrumar a mesa, e ajudá-la a carregar mala e frasqueira para nosso quarto.

 Sempre levávamos ovos caipiras, queijos e doces da roça para Cruzeiro, que com ares de cidade grande já os tinha poucos a oferecer à população. Em troca trazíamos para nossa casa em Campanha roupas compradas prontas, enxoval e até sapatos.

Vovó era muito católica e tinha um terço que rezava com os netos todas as noites, quando eles já estavam em suas camas para dormir. Se, ao término, algum insone continuava acordado puxando prosa com um(a) primo(a), ela voltava com o terço. Depois do segundo, antes que completássemos o rosário, quem não havia pego no sono fingia dormir.

Tínhamos carinho e respeito por ela por todo o tempo que convivemos, mas não deixávamos de lado as traquinices e ‘vó Mariana parecia entender isto muito bem. Foram quarenta e três netos e netas a passarem pelo colo dela ao longo dos anos!

Para o meu enxoval pedi-lhe de presente, que fizesse uma toalha de crochê para meu novo lar. Passadas cinquenta primaveras cá está a toalha guardada com muito amor. Só a utilizei em ocasião especial como reunião de família e alardeava: -Vovó teceu para mim.

Quanta saudade!

Ela quem me ensinou a fazer o doce denominado Miscelânea, depois de uma reunião de família, quando sobrou uma tigelona de salada de frutas. Melhor explicando: -Minha mãe já havia morrido. Fui administradora da casa por uns meses. Não sabendo o que fazer com aquela sobremesa meio murcha, muito aguada, e ainda assim boa, perguntei à vovó Mariana como poderia aproveitar aquilo. E ela, criada em fazenda com pomar, e muitos irmãos ávidos por doces foi para a cozinha comigo. Juntas calculamos o açúcar cristal proporcional às frutas, despejamos num tacho de cobre e nos revezamos na colher de pau até encorpar.

- Que delícia!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".