janeiro 31, 2020

A visita da cegonha

Elisabeth Santos


Em qualquer parte do mundo a cegonha passa deixando um bebê para um casal. É lenda das mais antigas, que livrava os pais do neném da explicação às outras crianças:

_ De onde vêm os bebês.

Acreditavam os adultos de boa fé, que a inocência infantil teria de ser preservada a qualquer custo, até que atingisse a idade da razão.

Nos dias atuais poderá acontecer dos filhos mais velhos estarem explicando aos pais como as crianças vão se formando no ventre materno pós-concepção. Os livros de Ciências Naturais vistos e revistos na escola trazem todas as informações. As consultas à Internet complementam.

Aqui, neste exato momento estou abordando somente a incansável cegonha que vem de muito longe entregando os filhos aos seus pais.

A dúvida maior quanto à Dona Cegonha vem do fato concreto:

_ No meu país nascem crianças todos os dias do ano, sem que alguém tenha visto uma ave denominada Cegonha, ou outra com seu decantado bico longo sobrevoando as cidades, e os campos trazendo bebês.
Há bastante tempo ocorreu a um infante alertar sua mamãe:

 _ E se você for ao mercado e demorar, e a cegonha chegar aqui em casa para entregar o neném?

E o maiorzinho que ali perto se encontrava assim corrige:

_ Não seja bobo, nenéns vêm dentro dos repolhos que estão plantados na roça.

E o priminho, que era desta turminha resolve dar sua versão:

_ Nada disso que vocês estão a falar. Eu, por exemplo, nasci num dia de chuva. Minha mãe estava à porta da casa e pegou-me na enxurrada.

_ Como assim?

_ Foi ela mesma que me contou. Teve um sonho certa noite, que no próximo dia primeiro de abril, ia cair uma chuva forte. A enxurrada formada na sarjeta haveria de trazer um bebezinho lindo como eu. Era para ela pegar, e bem depressa levar-me para dentro de casa, vestir-me com a camisolinha bordada pela vovó, e ir deitar-se. Eu, ficando pertinho do seu corpo, estaria aquecido e com uma cor parecida com a dela.

Historinha fácil de entender.

Já em família numerosa o indício de que chegou um irmãozinho, ou irmãzinha poderia ser ainda mais fácil adivinhar: a porta pela qual as crianças passavam ao acordarem de manhã estaria fechada. A saída emergencial seria utilizada para que todos pudessem tomar café e seguir para a escola.

Quando ouviam o choro de um neném, logo em seguida aquela porta, que esteve trancada era aberta. Vinda do quarto do papai e da mamãe, uma simpática senhora com uma maleta bem segura em sua mão esquerda. Sim, ela quem trouxe a irmãzinha daquela criançada, dentro da maleta, ora bolas!

Depois, aquelas crianças saíam correndo pelas calçadas, batendo de porta em porta dos vizinhos a anunciar:

_ A mamãe ganhou neném!

Se alguém exclamasse perguntando: _ Que benção! E como está passando sua mamãe?

E se fosse eu a responder, com meus cinco aninhos, diria bem assim:

_ Mamãe está feliz, “sorrisando”! Dona Vitória está “tite”. Agola num tem mais neném na maletinha dela.

_Ora bolas!






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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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