novembro 23, 2013

Umdoicinco e Duquinhentu


Íamos, minha esposa eu, de São Paulo para Campanha pela Rodovia Fernão Dias, quando passávamos por Estiva, Sul de Minas, foram aparecendo à margem da estrada, barracas de frutas.

Em cartazes improvisados com pedaços rasgados de lona de caminhão, e escritos de maneira grosseira à broxa, liam-se os nomes dos produtos à venda.

Logo que minha companheira de viagem viu que uma das barracas tinha caqui, fruta que ela tanto gosta, encostamos o carro e pedimos pela fruta.

Mas a moça nos disse:

_Caqui não tem mais.

Ficou só mesmo a placa, muita alta no poste que a moça baixinha não alcançava para corrigir.

Seguimos em frente, sempre atentos para ver se aparecia alguma banca que vendesse caqui ou lichia, mas não aparecia nenhuma. Já havia passado a época delas.

Um pouco mais à frente, paramos em mais uma barraca na qual só havia mexerica e perguntei o preço do saco de fruta.

A resposta rápida como um disparo e ininteligível como um balbuciar de bêbado me fez sentir meio estrangeiro em minha própria terra. Olhei para minha esposa e pela expressão no seu rosto, também não tinha entendido nada. Fiquei meio sem jeito, mas perguntei de novo e a resposta foi outra carreira — "umdoicinco…”.

Pensei, que diabos esse cara tá falando?

Aí minha esposa perguntou e ele respondeu lentamente, ou pelo menos a uma velocidade que foi possível entender:

_ “Um-é-doi- trei-é-cincu”.

O rapaz deve ter pensando que nós éramos muitos lentos ou burros, mas finalmente conseguimos entender. Um pacote custava dois reais ou três por cinco reais.

Com toda essa nossa dificuldade para entender é de admirar que ele não tenha aumentado o preço ou até fez isso e nem entendemos.

Compramos os três sacos da mexerica, que mesmo quente estava um delícia e fomos comentando sobre o “causu”.

Isso me fez lembrar outro que aconteceu há anos, quando ia de ônibus para Campanha passar o Natal e fizemos uma parada em Pouso Alegre.

Aproveitei para descer, comer um enroladinho de queijo derretido e um refrigerante. Naquela época eu ainda não era vegetariano e adorava queijo.

Quando a garçonete apareceu para atender os passageiros que desceram para fazer um lanche, pedi um Guaraná.

Ao que ela respondeu com uma pergunta:

_“Duquinhentu"?

A minha cara de paulistano de “num tô intendendu”, foi a mesma.

Por alguns instantes tentei ver se “tinha alguma luz”, entender o que a moça havia falado, se tinha uma intuição, insight, se o som do que ela me disse era parecido com alguma coisa que pudesse relacionar com refrigerante. Quem sabe era algum tipo novo, além do normal, diet, agora vai ver tem o “duquinhentu”.

Mas nada de entender! Então corajosamente perguntei, meio preocupado em não parecer burro ou lesado e ela respondeu:

_“Você qué a du quinhentu?”.

Eu queria mesmo era entender o que ela falava, mas faltava contexto, ou inteligência da minha parte.

Detesto quando não entendo alguma coisa e pior ainda quando é algo simples. Mas tem algo que odeio mais, dizer que entendi algo que de fato, não entendi. Meu orgulho é grande, porém minha curiosidade e vontade de entender são maiores. Um pouco...

Então falei que não tinha entendido ainda. Ela, já sem muita paciência, pegou uma lata e uma garrafa de Guaraná e falou:

_Tem a latinha e tem a garrafa de 500.

Pensei:

_ Ah… agora eu entendi!

Pedi a “duquinhento” e “doiroladinhodiqueiju”. 


--
Edison Villela (www.edisonvillela.com) Brasileiro radicado nos EUA desde 2011, Prof. de Filosofia, Adm. de Empresas, empreendedor (www.dejavuguitars.com). Além de vender guitarras, toca nas horas vagas. Pesquisa a Consciência desde 1992 e um livro sobre suas experiêcias está em andamento, aguardem notícas em breve.

4 comentários:

  1. OI EDISON, apreciei e ri bastante do seu texto sobre "venda de frutas às margens das nossas rodovias". aida bem que você é curioso e interessado em aprender cada vez mais. Em suas próximas férias, passeie de carro pelo norte do Brasil. As variedades de frutas, preços e medidas... vão dar assunto "pra mais de metro".

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    1. Olá,
      Assim que sobrar um tempo, e dinheiro também, vou passear para aquelas bandas.
      Abraços

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  2. Olá Edison !
    O Brasil, e seus alegres brasileiros... É bom vê-lo na ativa! Sabe que, suas experiências, me lembram uma recente, que coincidentemente, foi também em Minas, mais precisamente em Aiuruoca. É que minha irmã, mora no vale do matutu, localidade, que pertence a esta cidade. Fomos para visitar minha sobrinha, recém nascida. Ao chegar na cidade, paramos para tomar uma "água" e tentar contato com minha irmã, para que viesse nos buscar, pois era a primeira vez que íamos por aquelas paragens. Descemos dos automóveis, e logo em frente, onde estacionamos, havia um mercado, que também tinha um seviço de bar. Pedimos as "águas" e os refrigerantes, e tentávamos uma conexão pelo celular. Não estava dando certo. Então, um de meus filhos, sugeriu a internet. Fato que de imediato, o outro filho questiona: Mas tem Wi-Fi? Um outro integrante de nosso grupo, sem perder tempo responde: Olha, o "Fi" eu não sei, mas o "Wi" é aqui mesmo...
    Eu ri muito, pela espontâneidade e originalidade. O pessoal de Aiuruoca, que por ali estavam, não sei até hoje se entederam a piada...
    É isto.
    Quando vier ao Brasil, precisamos tomar uma "duquinhento" , lá no boteco da Faculdade.
    Um forte abraço.
    Sucesso à vocês.
    Álvaro

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  3. Oi Álvaro,
    Como anda? Boa essa tirada do "Wi"!!!
    A comunicação humana realmente é uma assunto interessante, às vezes engraçado, outras constrangedor, mas vamos aprendendo.
    E os seus textos, poesias, como anda? Já pensou em publicar?
    Estou escrevendo meu livro, penso que no próximo natal ele já esteja disponíveis nas livrarias virtuais.
    Abraços

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