Por Elizabeth Santos
Sempre no mês de outubro convido algumas crianças para
o meu atelier de pintura. Organizado para recebê-las fica bem mais
interessante: mesas recobertas, tintas laváveis, pincéis pequenos, telas,
muitos papéis e pedaços de panos para as limpezas nas tigelinhas inquebráveis,
com água. A cada uma das crianças empresto camisetas em tamanho único, pequenas
para alguns, grandes para outras de modo que não se preocupem com respingos em
suas roupas. Mal começo as primeiras instruções, e já tem gente iniciando seu
quadro na maior empolgação. Dali a pouco, todas trocando ideias, um copiando o
outro, miscigenando cores para ver a novidade, fazendo perguntas ou
tagarelando. Na finalização da obra de arte espontânea, a maioria concentrada
quer, orgulhosamente, assinar.
Juntas vamos então organizar a exposição nuns
cavaletes enfileirados na varanda que recebe mais luz do sol. A expectativa é
grande para a chegada das mamães, papais ou titias. As expressões de ansiedade,
perguntam se o que fizeram está bonito. Algumas nem tiraram a camiseta vestida
por cima da roupa.
Gosto imensamente deste momento!
A menina mais nova tem apenas três anos, e chorou por
querer vir acompanhando o irmão. Sua mãe não queria traze-la receando que desse
muito trabalho, mas arranjei uma
voluntária e ficou tudo bem. As idades variaram até doze anos, assim como os
temas foram diversificados: de flores a carros de corrida; de casinha de boneca
a picadeiro de circo; de paisagens de coqueiros a enormes prédios de
incontáveis janelinhas (porque nas paredes que não apareciam havia janelas
também, explicava o pintor mirim).
Ainda não sei quem ganhou mais naquela alegre tarde de
férias...
Se as crianças, expressando suas vivências e mundo
interior.
Se a mestra improvisada, diante de tanta
espontaneidade e alegria.
Só saiu perdendo quem não viu, mas terá a oportunidade
de imaginar nessas mal traçadas linhas, e nas ilustrações captadas nas fotos
das pinturas originais.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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