© Silencefoto © Zalakdagli |
O ponto de interrogação não serve só para a frase
interrogativa. Serve também para definir a dúvida atroz dentro da cabeça de uma
pessoa desenhada no papel.
_ Criança vem cá que preciso ter uma conversa
particular com você.
_ Quer perguntar alguma coisa, tia?
_ Nada disso menino. Quero explicar uma coisa
importante a você...
_ Se é “de onde vêm os bebês” fique sabendo que já
sei!
_ Algo bem mais importante no momento. Quero elucidar
pela enésima vez “de onde vem o dinheiro”!
E os dois sentaram-se na pedra em forma de banco que
havia no caminho, e ficaram a conversar. No começo a tia falava, o sobrinho
ouvia. Depois a criança falava, e a mulher ouvia... se bem, que enrolando uma
mecha da sua cabeleira na ponta dos dedos, e ainda cantarolando: _ lá lá ri li
lááá...
Ao final daquilo que deveria ser uma conversa séria...
ninguém que ali passasse iria afirmar quem falava, ou quem ouvia. Uma barafunda
no emaranhado de duas vozes ao mesmo tempo, cada qual querendo ter mais razão
que o outro.
Por fim seguiram ambos de mãos dadas para o
supermercado onde cada um escolheu seu carrinho de compras. O menino foi
primeiro, a tia atrás. Dali a pouco trocaram, por iniciativa da mulher que
pegou a frente do minicomboio. E ficaram rondando aqueles corredores todos,
olhando gôndolas de cima abaixo. Pinçando com a mão que não dirigia o carrinho,
uma mercadoria cá, outra lá.
Hora de passar no caixa e pagar a compra.
A tia esvaziou o conteúdo do carrinho na esteira
rolante primeiro: Uns cinco pacotes diferentes pesando um quilo cada; umas
latas de um litro; alguns hortifrutigranjeiros; produtos de limpeza e
higiene... Totalizando quantia próxima de cem reais.
O garoto que vinha seguindo sua tia na fila do caixa
repetiu seus gestos colocando todas as escolhas a serem registradas no caixa:
um tablete pesando umas quinhentas gramas; um pacote de bolinhas de todas as
cores; seis embalagens de goma de mascar; e uma caixa com um super-herói de
vinil brilhante pendurado pelo lado de fora, totalizando cento e nove reais.
O rapazinho pediu à moça do caixa para tirar os nove
fora e ela numa conta de calculadora e escolha rápida eliminou o que fazia a
compra passar de cem. Mais rápido ainda foi o pequeno consumidor retirando a
nota azul de dentro do boné que trazia na cabeça, pagando, pegando as
sacolinhas biodegradáveis para enchê-las e lá se foram os dois felizes da
vida!
Algum leitor aí com a dúvida atroz sobre o que, tia e
sobrinho conversaram lá na pedra do meio do caminho?
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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