abril 05, 2019

Retiro Espiritual

Por Elisabeth Santos


Para quem acha que retiro espiritual é só para quem tem religião vou contar minha verdade. De vez em quando sinto necessidade de estar só, sem muito que fazer a não ser: retirar-me para um lugar diferente do habitual, estar a sós comigo mesma, sintonizando-me com o Universo, sentindo minha pequenez, certa de que mesmo assim sou parte de algo maior e mais poderoso.

“Uma alma que se eleva, eleva o mundo” dizia Elisabeth Leseur. Eu e a minha espiritualidade, consciência plena de que não sou só matéria, sigo em busca de uma ligação com algo superior à minha pobre humanidade. Sim, aprendi retiro espiritual na cartilha de um Colégio Católico, só que terminando os estudos formais não dediquei mais tempo a retirar-me para estar comigo mesma e fazer reflexões. Só quando chegou o momento mesmo, e estando disposta e disponível, seguindo um modismo da temporada, fui passar uma semana num espaço místico, fora da cidade. Exatamente uma chácara beirando a montanha verde, entrecortada de córregos, povoada de animaizinhos, musicalizada pelos pássaros, entremeada de flores e frutos.

A rotina a ser seguida era anunciada pelo bater do sino desde que o dia clareava: um momento para receber a energia do sol, num caramanchão rústico e octogonal. Fazíamos exercícios respiratórios com movimento de braços, todos à vontade, e o silêncio... benvindo.

Após o café da manhã, acompanhado de sucos e frutas da estação, queijo tofu, ovos mexidos, pão integral com manteiga fresca, íamos para a horta. Ali os canteiros de flores comestíveis, temperos e algumas verduras mereciam nossa atenção. Não só observávamos, mas pegando nas mini ferramentas, afofávamos a terra, retirávamos pragas, espantávamos pequenos predadores. O espantalho ali de vigia, simulando movimentos humanos, ao sabor do vento, tratava de deixar claro às gralhas que aquela propriedade era particular.

O horário seguinte era de exercícios físicos ao som de música clássica, quase um bailado; biblioteca à disposição; trabalhos manuais, de origami ou argila a quem preferisse.

Servido o almoço, tempo livre para um cochilo, cada qual em seu aposento.

À tarde a sugestão era uma caminhada numa trilha bem sinalizada no entorno da propriedade indicando, a cada vinte metros, o exercício a ser realizado naquele ponto. Não sendo grande sua extensão, quem quisesse poderia repeti-la. Se surgisse uma pedra, em que se pudesse assentar, seria o momento da meditação pessoal, íntima:

_ Em que estou me aperfeiçoando?

_Como melhorar meu cotidiano de correrias lembrando-me que sou um ser espiritual em passagem pela Terra?

_ Em quais momentos senti realmente que fui útil ao meu próximo, tornando-me melhor?

_ Quando, com quem e onde me senti tentada pela prepotência ou soberba, crendo-me superior ao meu semelhante? Posso corrigir!

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Depois sim, quem solicitasse teria o tempo de conversar com um dos planejadores daquele retiro, à sua escolha.

Filmes, palestras, depoimentos, tudo poderia acontecer ali à noite, mas a maioria preferia um chá numa roda em volta da fogueira combinando com o clima de montanha.

Uma boa noite de sono, ao som da melhor música: sapos no brejo, grilos na vegetação, pios, chiados, tudo que se pode esperar da natureza na escuridão iluminada de vagalumes.


Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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