“Quero beijar-te as mãos minha querida. Senta junto de
mim vem, por favor. És o maior enlevo da minha vida, és o reflorir do meu amor.
Se tu me quiseres tanto quanto eu que vivo para te adorar será um mundo de
esplendor... o nosso amor: Amor, nosso amor!”
E o rapazinho cantava, com o joelho direito flexionado
à frente da cadeira onde a menina de dez anos, sentadinha com uma raquete na
mão aguardava sua vez de jogar pingue pongue.
Ele simplesmente dramatizava o que gostaria de
declarar à sua amada, mas não teria chance enquanto o muro do Internato do
Colégio estivesse à frente de outros obstáculos bem mais resistentes que suas
grandiosas pedras.
Ela sabia das intenções dele, que apenas queria mandar
recados para sua inacessível paixão através da coleguinha de classe estudantil
da amada.
A cena fazia a rapaziada testemunha de tais arroubos
gracejar, e rir daquela suposta bobeira de crianças. Não seria suposta se quem
se sujeitava a fazer parte daquele teatro alimentava ilusão a respeito de algum
dia ter alguém a se declarar assim a ela. Afinal o rapazinho tinha seu charme!
No que repetia cantando os versos de Anízio Silva, arrumava o teimoso topete de
cabelos negros e lisos num único balançar da cabeça. Simulava pegar a mão da
amada e lascava um beijo na própria mão!
Hora de ela ir para a mesa jogar. Como concentrar se o
Romeu insistia nos recados a serem transmitidos à sua Julieta?
_ Por favor, diz pra ela que olhe para mim, que
estarei na praça, próximo à terceira palmeira imperial, quando as alunas todas
saírem com a diretora para a sorveteria no domingo. Por favor, diz que sim. Que
dará meu recado. Que estou louco de amor pela minha Julieta!
A insistência era tão perturbadora quanto
inconveniente, sem dar chance da jogadora do momento ganhar do adversário de
pingue pongue, ou simplesmente acertar a cortada.
Nenhuma das paixonites da época, entre os meninos do
entorno do grande colégio e as alunas internas, concretizou-se como ditava o
figurino: _ Um belo dia casaram-se, e foram felizes para sempre! - Em
compensação, o aprendizado sobre amor platônico e a realidade da vida a dois
VALEU!
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