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Ao contar uma história fantasiosa o narrador inicia
com: era uma vez...
Ao narrar história verídica ele começa pela data,
mesmo não sendo exata: nos idos de 1800...
Misturando-se num relato fantasia, realidade mais uns
palpites, temos o famoso “Reza a Lenda” a puxar o assunto que se quer abordar.
_Então senta que lá vai o conto!
Reza a lenda que numa pane do motor do teco teco em que viajava solitário, o exímio piloto consegue pouso forçado descendo ileso numa reserva indígena. Ao ver aquela figura pálida, esquálida, e barbada, os nativos o reverenciaram. Pensaram num ser superior que poderia trazer-lhes sorte. Muita sorte!
O piloto queria consertar seu meio de transporte e
voltar à civilização, mas foi ficando, foi ficando... até descobrir que a
cultura daquele povo imberbe, bronzeado, que se enfeitava em vez de esconder o
corpo, tinha muito a ver com sabedoria natural.
O branco pôs os índios a procurar na mata o parafuso
que se soltou do motor. Estes, se o acharam, guardaram-no bem guardado para o
cara pálida permanecer mais um tempo a ensinar-lhes novidades.
Adão era o nome do branco, que aceitando de bom grado
a hospedagem, retribuía cozinhando deliciosas receitas feitas com água salgada
do mar. Aquela tribo, desconhecendo o uso do sal nos alimentos, sofreu de dor
de barriga até acostumar-se com o novo tempero. Na troca de conhecimentos Adão
aprendeu a tomar banho (de rio) diariamente e mais as receitas de tapioca que
foram anotadas em seu diário de bordo.
O tempo passando, ouro e pedras preciosas garimpadas
nos rios, e se transformando por mãos habilidosas em adornos, verdadeiras joias,
isso sim.
Enfrentando tribos rivais aquela comunidade conheceu a
escravidão e a cobiça por seus novos adereços.
O dia que o branco teve gripe dizimou metade
daquela gente que não tinha resistência para vírus.
Ele que nem pensava mais em um dia retornar às origens...
viu seu teco-teco consertado, o tanque abastecido do álcool originado da
fermentação de plantas nativas e o pessoal cantando e dançando o ritual da
despedida.
Depois da gripe, virou “persona non grata” tendo de
partir.
Seus netos foram descobertos por uma expedição que
passava por aquelas bandas muitos anos depois. Usavam pouca roupa; passavam
tinta no cabelo e no rosto; conversavam embolado; reverenciavam o Sol e a Lua;
temiam o Trovão, mas atraiam nuvens de chuva em ritual próprio.
Reza a lenda!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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