Por Elisabeth Santos
Maria do Carmo resolveu casar-se após muitos anos
morando debaixo do mesmo teto com o Osmar. Trocou ideias com amigas que sugeriram a
ela “embarcar” na cerimônia coletiva a acontecer no meio do ano na cidade em
que residiam. Ducarmo pesquisou juntamente com o “namorido” chegando à
conclusão de que não era muito aquilo que queriam não:
_ De cinco a vinte e cinco casais, todos com parentes
e padrinhos, reunidos num mesmo local haveria de ter cerimônia demorada,
ambiente confuso, bem cansativo e ainda sujeito a imprevistos diversos.
As colegas ponderaram que mesmo assim poderia ser
econômico, bonito, cheio de emoção, e com a vantagem de muita badalação na
mídia.
Quem continuou a fazer oposição aos argumentos da
turminha foi o próprio candidato a noivo oficial. Osmar parecia não se
interessar em sair no noticiário inda mais sendo que havia demorado a
decidir-se pela oficialização. Convenceu então a futura noiva a pesquisar, e
apresentar-lhe outras ideias.
Analisando prós e contras ficaram as amigas dela
ventilando possibilidades diferentes:
_ adquirir o terno do noivo, os vestido da noiva, e
daminha, num brechó chique; solicitar o espaço no centro comunitário do bairro
onde residiam; chamar o coral da terceira idade para os cânticos convencionais;
De favor, estava claro, etc e tal.
_ pedir emprestado os trajes; realizar uma festa no
jardim da firma em que os noivos trabalhavam; etc e tal.
_ alugar tudo depois de desgastante pesquisa de preços
e devidas negociações com firmas especializadas; começar a pagar com antecedência
as lembrancinhas a serem distribuídas; lua de mel num resort litorâneo com
preços especiais para o inverno, etc e tal.
Ao reunirem-se, no último feriadão antes do casório, para
decisão final a respeito do evento mais importante daquela “familhona”...
Ninguém se surpreendeu mais com a resposta negativa ora da noiva, ora do noivo,
e a concordância de ambos só com os “etc e tal”.
Não sabiam eles que ali no grupo estava alguém a ponto
de perder a paciência e falar bem alto, já afastando a cadeira para retirar-se
do ambiente, que aos poucos ficara pesado:
_ Eu tenho a solução acertada para vocês dois: _ Irão
se casar na festa junina do nosso bairro, vestidos com as roupas que quiserem,
presença maciça de todos que moram por aqui, comes e bebes com fartura, e
principalmente música, dança, e alegria infinita!
Antes de se ouvir no pequeno auditório a ordem:
_ Calma, calma,
Dona D’Alma!
Os noivos gritaram do lado de lá:
_ Taí... Gostamos
da ideia! Vamos em frente, viabilizar esta possibilidade, pois a Junina local
está a poucos dias de acontecer.
Dona Encrenca, surpresa com a pronta aceitação, fez a
pergunta que não queria calar, a que o quase ex noivo, de uma união já
consolidada esclareceu prontamente:
_ Sempre fui louco por festa junina (louco todo mundo
ali já desconfiava), porém meus pais nunca consentiram a mim e meus irmãos
participarmos de alguma. O argumento era indiscutível: um tataravô falecido no
dia de Santo Antônio, um bisavô falecido no dia de São João, e uma avó deles, no
dia de São Pedro. Em respeito aos ancestrais mortos há tempos, ninguém dali em
diante participaria de tais festividades. O tempo passando, eu sem ter aquele
gostinho de comemorar com alegria os santos do mês de Junho, fiquei rabugento. Nem
desejava mais dançar quadrilha. Hoje acredito que essa é a hora oportuna e
quero muito experimentar uma festa junina para deixar feliz até quem estiver em
outro plano.
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Dos etc e tal... fazia parte o casamento civil, no
cartório, dentro dos trâmites legais, diante do juiz de paz, tudo certinho.
No dia seguinte sim: _
Convidados e padrinhos com roupas vistosas de autênticos caipiras; noivo
e noiva vestidos a caráter; o ministro de Deus abençoando; e o caminho da roça...
seguiu o caminho da Lua de Mel num hotel fazenda.
Sim,
absolutamente sim, era isto que todos os envolvidos desejavam. Tinham certeza
que os noivos mereciam isto e muito mais. Algo que ficasse lembrado para sempre
com muito gosto por eles, pelos filhos que já estavam bem crescidinhos, e à
altura daquela união que aguardou tanto por um sonho realizado.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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