Por Elisabeth Santos
... porcaria |
Nunca tinha visto tantas pessoas falarem tão abertamente da morte, como nesse ano de dois mil e vinte.
Bastaria dizer que a TV quis contar
um pouco da vida de cada um dos que vieram a óbito pela Pandemia COVID 19, e a
tarefa não foi terminada! A mídia quis mostrar que não eram somente números, e
sim pessoas que tendo ou não família foram importantes para alguém, e a vida de
cada um que partiu importava, não só a cada um deles, mas ao nosso país inteiro
sim. Nem que fosse pela exorbitância do número estatístico a ser registrado
historicamente, que não estão sendo simples números em ordem crescente têm um
rosto mostrado em foto, viveram uma história de amor, de esperança, de alegria ou
de dor. Eram pessoas como nós que ficamos, mas tiveram que partir às pressas.
Quem achava ter visto de tudo um
pouco, desconhecia que o ruim ainda poderia piorar. Não foi bomba, terrorismo
ou guerra a derrubar soldados dispostos a matar ou morrer. Nem precisou virem
seres de outros planetas conforme ficção científica. Nada de visível, palpável
ou previsto. Certo dia ouvimos o alerta de Pandemia e o jeito de viver de cada
ser humano, foi nivelado por baixo: ninguém entra, ninguém sai; as aglomerações
humanas de qualquer tipo ficam proibidas; vamos evitar contatos porque o vírus
poderá pegar em qualquer indivíduo, causando sintomas perceptíveis ou não.
O uso de máscara para nariz e boca
impede, pelo menos, que se passe a doença de um para outro. A higienização frequente
das mãos é a barreira para o vírus não se agarrar. Evitar ao máximo levar as
mãos ao rosto assegurará o impedimento ao acesso do vírus às vias
respiratórias.
São alguns dos cuidados básicos para
quem permanece em casa a maior parte dos dias, saindo apenas o essencial.
Para quem é obrigado a ir de sua
residência para o trabalho, cuidados redobrados: não utilizar ferramentas de
colegas; trocar de roupas ao retornar; ter calçados separados para se usar num
e noutro ambiente; tomar banho com água e sabão; e evitar-se contatos com
objetos que chegam de fora sem a devida limpeza, ou que fiquem resguardados por
um tempo.
Com a recomendação de se evitar
aglomerações, escolas, templos, comércio, esportes, lazer, dentre outras
possibilidades tiveram que ser paralisadas por tempo indeterminado. Prevista
sim uma flexibilização à medida em que os recursos necessários ao atendimento
médico hospitalar estiverem disponíveis a todos infectados.
Muita coisa aconteceu e acontece em
meio ao inesperado ataque. Depois do pico da Pandemia pelo Corona vírus está
prevista uma mudança de hábitos nada agradável ao povo brasileiro. O estilo de
vida que virá ao país e está sendo chamado “O Novo Normal” baterá de frente com
hábitos arraigados à toda população de um território de dimensão continental, a
abrigar, além dos seus primeiros habitantes, povos vindos de toda parte do
mundo. Era do conhecimento nosso: “quem se adaptar, terá mais chance de sobreviver”,
mas a facilidade, ou dificuldade no aceite às normas, será vinculada à
qualidade de vida que se deseja. Muito difícil para a maioria.
Aos mais precavidos coube preparar o
necessário para o que desse e viesse. Em tempos idos, já teriam o hábito saudável
da organização, então ficou natural irem ao cemitério escolher o local da sua
última morada. A idade avançada colocou-os entre os que correriam maior risco
de morrerem numa pandemia.
Aquele baú, cantinho do armário, ou
gaveta para roupa adequada a ser usada numa possível internação hospitalar foi
acrescida do vestuário escolhido para um defunto.
Muito realismo ou pessimismo? Ninguém
ousaria contestar. Soaria falso. O jeito melhor de lidar com o querido familiar,
que sempre preparava com calma a bagagem necessária a cada viagem, era estar ao
seu lado, ajudando-o no que pedisse.
Documentos pessoais separados em
lugar de fácil acesso? Por que não? Afinal não os trazia no bolso há meses!
Aquele que guardou em algum lugar,
mesmo que fosse na memória meio falha, uma lista de entretenimentos para sua “Última
Idade”, e percebendo que ela ali se apresentava, antecipou-se.
Rever suas fotos foi sua primeira
medida. Ajeitou um cantinho do quarto e iniciou o processo descendo caixas, e
mais caixas do alto da estante. Agradeceu a si próprio ter retido tantos
momentos bons em papel fotográfico e slides, para rever e compartilhar algum
dia. Sendo a organização uma qualidade sua, em poucos dias viajou no tempo e terminou
a tarefa com satisfação. Ainda colou em álbuns com os devidos títulos, e suas
apreciações manuscritas, a qualquer ocasião digna de registro. Preferiu não
usar o computador pois sua letra ainda era boa.
Livrar-se de objetos ora inúteis tem
sido mais difícil para qualquer pessoa. Umas por apego. Outras por perceberem
que retirar tralha, descartando-a em locais adequados, não é fácil nem barato.
Em tempos de pandemia então, mais dificuldade pelo risco do contato com
profissionais, que não são habituais ao seu convívio.
Livros com romances inesquecíveis poderão
e serão relidos na internet em qualquer tempo da vida. Não precisando guarda-los
é só doá-los.
Adornos para decoração ambiental vão
para o Brechó juntamente com acessórios, enfeites e lembranças materializadas.
Em cada um, uma parada para a recordação do Natal, ou aniversário em que foi
trazido com carinho. Não há outra solução mais adequada no momento.
E quando nada mais restar na lista do
que rever com saudades dos tempos idos?
Para uns será escrever sobre sua
experiência do hoje jamais imaginado, visto ou vivido!
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