outubro 16, 2020

Os cabides

Por Elisabeth Santos


Quarto mês de isolamento social, e você aí “caçando” coisas para fazer se depara com um guarda roupa entulhado. Chegou aos cabides de roupas de vestir e percebeu que eles, contam muito sobre a sua vida.

Parando para pensar aí solitária, você que estava ansiosa para ajeitar o armário, começa a sentir uma coceira nos dedos que querem digitar. Daí ao computador... três segundos. É uma força maior. Melhor parar para contar a quem estiver perto, e a quem longe estiver, o que descobriu.

Foi sobre seu passado? Foi sobre seu estado de humor? Seu gosto pessoal? Status?

 Vejamos então quais tipos de cabides ali se encontram.

 Se houver um jeito de selecionar poderá começar agora. Estou doidinha para saber, porque também eu estou procurando o que mais a fazer dentro da minha residência.

 Cabides viraram pejorativo quando acrescidos das palavras mágicas... “de emprego”. Não é disto que se trata. O assunto é bem sem graça mesmo: um texto sobre cabides de pendurar roupas numa arara (’tadinha), num closet, no interior de um móvel que denominamos guarda roupas, ou armários de quarto de dormir.

A lista que recebi:

“- Ainda tenho algum cabide feito em casa, com arame trabalhado no alicate. O material era dos bons. Aguenta até hoje o peso de um poncho tricotado em lã grossa.”

“- Achei, bem no cantinho, um cabide de arame revestido de material plástico colorido. A matéria prima certamente é de alguma fábrica, mas o objeto poderia ter saído das mãos habilidosas de algum artesão. Quem sabe utensílio confeccionado em série numa produção doméstica na garagem? Ali pendurado enxerguei uma japona de feltro marrom com dois grandes bolsos laterais e botões revestidos de napa. Bom cabide!”

“- Num relance descobri uma maioria significativa de cabides de madeira no guarda roupa embutido numa das paredes do quarto do casal. Esbocei um riso maroto, pois ainda não havia prestado atenção em cabides, suas histórias e a quem serviram e servem até hoje. Uns largos e longos (tinham haste para baixo), em madeira de lei envernizada. Suponho que algum dia serviram para as casacas, fraques ou similares. Entretanto poderia ter sido invenção de um(a) baixinho(a) para lhe facilitar pendurar cabides num cabideiro de altura avantajada. No momento vi dependuradas muitas calças de casimira, tricoline, gabardina e tecido de lã “jaquard”. Tanto as roupas, quanto os cabides dali eram de feitio clássicos.”

“- Engraçado... no meu guarda roupa nada disso encontrei. Tenho cabides inoxidáveis inclusive triplos. Neles guardo três ou mais calças compridas sem amarrotar! Quando vazios, estes cabides ficam tilintando a qualquer movimento. Minhas roupas sim, variam muito. A cada estação do ano renovo-as. A cada viagem trago lançamentos. Acompanho modelitos recém chegados às vitrines. Ainda não havia parado a pensar em novos cabides.”

“- Gente, descobri que tenho amostras de todos esses cabides, e ainda os de plástico que à toa, à toa ficam encurvados. Quem quiser imaginar que tipo de vida levei, quantas mudanças fiz até então, irá surpreender-se. Pode não ser nada disso também. Posso ser colecionadora, estudiosa do tema, herdeira de muitos parentes, ou simplesmente compradora compulsiva de cabides. Estejam todos(as) certos(as) porém: Sempre trabalhei duramente sem ter “emprego como cabide” uma única só vez! Então o duramente tem aí duplo sentido... o de trabalhar muito e estar dura ou sem grana já na metade do mês.

Agora sofrendo com a falta do que fazer, fico “caçando” títulos para novos textos.”    




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia"


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