Tratava-se de uma família numerosa e
cheia de amigos, agregados, e também de amigos dos aparentados. Quando se
reuniam, enchiam uma Pousada e ainda sobrava gente para lotar o pátio interno e o calçamento à entrada da porta principal. Ainda assim iam chegando casais
empencados de filhos, e netos. Todos acostumados com o ambiente, iam se
ajeitando, se servindo, tomando seus lugares. Não estava estipulada hierarquia,
pelo respeito à tradição prevalecia a lei “quem chega primeiro escolhe onde quer
ficar”. Os grupos iam desenrolando assuntos sérios, e também os divertidos.
Quanto a estes, se fossem analisados à luz das normas estabelecidas nos últimos
anos, eram diálogos entremeados de anedotas preconceituosas. Os que bebiam
bebidas alcoólicas riam às bandeiras despregadas. Os que bebiam sucos de
frutas, saiam quando o clima pesava, davam uma volta por ali, se apresentavam
aos novatos da turma, e retornavam ao grupo de origem.
As crianças se misturavam de tal
forma, correndo de lá para cá, que algumas vezes lhes chamavam a atenção, e não
eram seus pais! Depois se desculpavam: - Olhei rapidamente e achei que eram os
meus filhos correndo risco de se machucarem. Essa criançada se parece muito. O
autor da censura, constrangido, se explicava pelo engano.
Tudo terminava bem.
Ali, a prosa sempre podada era a de
se gabarem de suas façanhas. Afinal de contas, todos sem exceção tiveram, em algum
dia da vida, local mais propício para se enaltecerem. Uns foram pescadores de
grandes peixes, outros plantadores de altas árvores, além dos que: criaram
animais de crescimento fora do comum, construíram de pinguelas a pontes ou se
tornaram louvados e glorificados por feitos humanitários.
Do lado de lá, donde vieram tais
informações, ninguém desejava ser mais ou maior que o outro. Local da paz e do
bem. As desavenças ou simples divergências de opiniões não viravam brigas de
egos.
Eis que surge a pandemia e deu-se
início a chegada ao grupo “paz e amor”, muitos revoltados querendo descobrir,
inclusive, os responsáveis pelos transtornos do lado de cá.
Estes especulavam, levantavam
questões de difícil raciocínio, lançavam hipóteses, julgavam com os dados que
tinham, apontavam culpados sem conseguir provar a origem verdadeira da pandemia.
Talvez não tivessem conseguido até então determinar “a origem” por não ter sido
uma causa única. Misturando-se aos “do lado de lá”, quem sabe conseguiriam?
Se iria adiantar de alguma coisa ninguém
poderia afirmar. Tinham fé. Se estaria, ou não, sendo tarde demais...
desconheciam também.
Apostando na ideia de evitar outros
pecados dali pra frente, entabularam diálogos sem fim. Se, ainda não chegaram a
um consenso decerto chegarão ao desfilar das aguardadas próximas gerações.
Lamentavelmente muitas vidas se
foram, mas o nosso mundo ainda não acabou. Pode ser que ainda haja tempo.
Palavras da turma do lado de lá, esperançosa de que os chegantes absorvam a paz
e o amor, depois de muita discussão sobre o hipotético questionamento: - “Quem
veio primeiro: o ovo ou a galinha?”
Clique aqui e role o cursor para ler outros Contos da Beth.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Leave your comments here.