março 12, 2021

Revirar o mundo, pandemia e recomeço - parte I

 Por Elisabeth Santos

  


- No meio em que vivíamos tudo era muito tranquilo. Não havia pedras incontornáveis em nosso caminho, a água era boa até para navegar, as subidas e descidas faziam parte da paisagem natural. Foi lá que ouvíamos dizer: “a terra era daquelas que em se plantando, tudo dará.”

Aqui e ali se viveu de brisa e do ar do prado!

- No meio no qual vivemos hoje está tudo mudado. Até o tatu.

De toda a liberdade de ir e vir, poucas opções restaram. Assim mesmo vamos vivendo, agradecendo a vida.

Vivamos, portanto!

-Se nos é permitido ir à padaria, continuemos nossa rotina do pão nosso de cada dia, amém!

Compra-se o que se comprava antes para matar a saudade de fazer tudo sempre igual, num mundo revirado, nunca dantes navegado. Como se fosse possível, num átimo de tempo, voltar à realidade anteriormente conhecida, nem sempre devidamente agradecida.

-Pode-se ir ao mercado de alimentos perecíveis ou não. Líquidos, sólidos ou pastosos...

Produtos de higiene, limpeza, ou beleza... Utensílios diversos, para os diversos moradores de nossas casas.

-Para a pessoa circular fora da moradia é necessário proteger nariz e boca. Para o novo vírus não circular, torna-se imprescindível também a higienização das mãos e antebraços na ida e na volta de qualquer lugar.

É pelas mãos indo ao rosto, que o Corona Vírus chegará às vias respiratórias do então novo hospedeiro. Sem nem mesmo ser convidado, ou pelo menos perguntar:

-Vossa Senhoria quereria hospedar-me?

É por isso que nós humanos usamos máscaras. Assim protegidos podemos ir a tantos outros locais necessários, como banco, farmácia, médico ou dentista.

Tudo que pudermos solicitar à distância, e receber no domicílio, será útil.

Locais com muita gente aglomerada... nem passar perto! Ali a chance de esbarrar em alguém já contaminado é bem maior. E olha, que o hospedeiro do intrometido poderá não apresentar sintoma algum, viu? Silencioso e bem escondido, para ninguém o achar e querer acabar com sua raça, lá está ele... o COVID 19.

Chegadas as primeiras notícias da descoberta de um vírus com características perigosíssimas num mercado de Wuhran na China reuniram-se entendidos do assunto para estudar como seria o enfrentamento. Pelo poder e força daquele vírus reproduzir e se espalhar rapidamente, a chance de pegar o mundo todo seria grande. A palavra Pandemia deve ter caído ali como trovão seguido de raio queimando gargantas prestes a dizer: -Não! Isso não. Não estamos preparados para uma reviravolta mundial deste porte!

Engraçado... O mundo preparado belicamente, monetariamente, espacialmente e quaisquer outras coisas mentes... e lá vem um vírus a nos virar e revirar o mundo sem que tivéssemos nada pronto para encara-lo. Nem vacina, remédios, insumos, materiais descartáveis ou aparelhagem adequada, eletrônicos, profissionais treinados, hospitais especializados suficientes, leitos...

E COVID 19 andando a passos largos ia chegando lá, ali e acolá, e nós brasileiros cumprindo distanciamento social para dar tempo de nosso país preparar-se. Tudo muito difícil porque fornecedores não davam conta das entregas a tempo e a hora.  Estiveram servindo a população humana terráquea. E, sem saberem ao certo, serviram aos desumanos que tentavam, egoisticamente, levar alguma vantagem Pandêmica ou “Pandemônica”. Junto vieram interesses políticos nada corretos. Eleitoreiros mesmo.

 Cada qual puxando a brasa para sua sardinha, ou melhor dizendo, puxando votos para  seu partido. Os partidos? Repartidos e divididos em tasquinhas, se lascaram. A hora seria de solidariedade com o sofrimento alheio, mas muitos se alhearam.

De novo a população salvou o momento através do voluntariado. Era, é e será sempre o povo a dar o exemplo. Esse sim conhece o sofrimento de precisar, e não ter. As doações empresarias e de particulares foram chegando, os grupos organizados foram distribuindo.

Entidades filantrópicas, religiosas, dentre outras sérias, confortando aos desesperados, oferecendo a eles o que o vil metal não compra.

E como o isolamento social, além da máscara e do álcool gel, se fizeram necessários, não só o comércio, mas os artistas, as redes sociais, rádios, canais de TV se reinventaram.

Quase todos estão propondo alternativas para os serviços que ofereciam ou  apresentavam em tempos normais. Através das palavras de ordem: Fique em Casa; Nós Estamos Com Vocês; Serviços de Saúde a Postos; Colaborem Evitando Aglomeração, já espalham resultados positivos alcançados.

Um cantor fez um show musical em casa, colocou no Youtube, e timidamente foram  aparecendo outros. Como nós da Terra Brasilis amamos um estrangeirismo, adotamos o termo “Live” pronunciando Láivi. As bandas que se apresentaram gratuita e virtualmente mantinham distanciamento de dois metros de um componente para outro.

 Até patrocinador apareceu, de boa vontade, para custear gastos indispensáveis que algumas apresentações teriam de fazer por conta própria. A beleza da união de forças esteve e está em toda parte. A recompensa vem da satisfação em fazer o bem sem olhar a quem, literalmente. O artista não vê seu público, não escuta seus aplausos, mas sabe que ele ali está.

É de emocionar qualquer um. Até o Édi!

Não surpreendeu que certa banda, através de pesquisa, foi muito solicitada e a cidade ofereceu-lhe espaço, num estádio de futebol, para o dia “D”. A surpresa sim, veio através dos inúmeros comentários do público agradecido. Num cálculo aproximado, daria seis

vezes mais o que as arquibancadas comportariam!

Aquela frase “todo artista deve estar onde o povo está” é lembrada a todo instante:

estamos em casa, mas recebendo estímulo, solidariedade, e a alegre companhia das artes em geral, pelos meios de comunicação.

É nessas horas que vivenciamos as mil e uma utilidades dos avanços tecnológicos que, mesmo não nos levando em fuga pra lua num ônibus espacial, traz até onde estamos o conforto de compartilhar com amigos, olhos nos olhos, tantas emoções, que na verdade só aumentam.

Tempos de COVID 19: escolas fechadas, atividades esportivas suspensas, igrejas vazias, produção parada, saudades imensas... Empregos faltando, serviço sobrando, temores voltando, lembranças de guerras contadas pelas pessoas mais anosas.

Muita preocupação, briga sem razão, troca de acusação... total confusão.

Noticiário numérico em tempo real, do começo ao final, ou do fim aos confins.

Noticiário falso, tendencioso, investigativo maldoso da origem viral. Hipóteses levantadas, cientificamente sondadas, sendo declinadas. Sem tiro ou apito começa a corrida.

Todos querendo se livrar do mal, trabalhando incansavelmente, buscam para a problemática uma boa “solucionática”. - E o que há de? Cadê, minha gente?

Num espaço de tempo, que parece não passar, unem-se esforços, trocam-se conhecimentos, e experiências. Vai-se descartando caminhos percorridos que deram em nada, caçando alternativas, juntando indícios de quase acertos, todas as possibilidades enfim de cada cultura do planeta. E não é que começou uma união contra o inimigo comum?

Para o mundo revirado chega enfim o recomeço!

Já foi dito, em verso, prosa e outras maneiras: tudo o que foi não será de novo o que já foi um dia, mas podemos repetir com o mais alto grau de esperança... o que foi bom poderá vir a ser bom algum dia. Não precisará ser exatamente igual.

O processo pelo qual estamos passando nesse ano de 2020 nos ensina muito:

- Está sendo uma revirada forçada, e dolorosa sim. Quem sabe a desumanidade estaria se  alastrando num mundo em guerra por coisas valiosas, que não permanecem depois da morte? Uns precisando sobreviver com dignidade, muitos os explorando, expondo a  miséria humana por quimeras?

-  Ou seria uma reviravolta para o bem de um planeta agonizante? Se o Bem Feito estivesse acima do Mal Feito, ou se aquele estivesse em pé de igualdade com esse, precisaríamos desse alerta mundial?

- Ainda há tempo! É o alerta da natureza, que consegue produzir na adversidade. A Pandemia de hoje talvez seja só para nos lembrar que a cada ação mal direcionada, há de ser vista uma reação inesperada, que conseguirá parar a humanidade desesperada. - Esta seria a resposta do trovador.

- Andamos esquecendo nossos verdadeiros valores? E este andar estava sendo penoso e resolveu-se pela corrida rápida num caminho enxergado como fácil, sem prever consequências desastrosas?   

- A vida é o valor maior! Para cuidá-la há de se ter devoção. Preservar moral e ética.

Respeitar diferenças culturais, dirimir divergências possíveis, aceitar diferenças que opassar do tempo naturalmente traz, e tantos outros valores, que alguém poderá concluir que se quer uma perfeição impossível de acontecer.

- Teríamos de viver uns pelos outros, e não cultivar o extermínio, mas sim “combater o bom combate!” que já foi modelo de esperança no convívio pacífico almejado, e quiçá conquistado.

E o que nós temos de sobra é a esperança!




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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