março 19, 2021

Revirar o mundo, pandemia e recomeço - parte II

 Por Elisabeth Santos

11757108 © Melinda Nagy | Dreamstime.com

SEGUNDA PARTE

 Após uma noite que pareceu sem fim, o dia radiante surgiu. A luz assim, de tamanha intensidade, não me deixava enxergar nitidamente o que estaria à minha volta. Fechei de novo os olhos, aguardei uns instantes para abri-los bem devagar. Fui me enxergando aos poucos para ter certeza, que quem ali estava era eu mesma. Pareceu-me uma bobagem constatar, se o fato de estar ali sob a luz do sol seria uma verdade em minha vida. Sonho, pesadelo ou realidade? Ainda me encontrava num estado de transição. De onde para onde, eu ainda não estava certa...

 - Onde estive mesmo? Por que? Com quem? E muitas outras perguntas que qualquer criança responderia, pareciam questões de um vestibular para atingir um curso superior.

Será que era isto?

A garganta doía. Experimentei emitir um som qualquer e ouvi uma voz irreconhecível.

Assim mesmo comemorei o fato de ainda ter voz. Ouvir eu ouvia sim, só não pareciam sons externos. Ambientais. Era meu coração batendo, meus pulmões se enchendo e esvaziando de ar. Comecei a mexer os dedos, artelhos e... espirrei sem querer. O cheiro de álcool sempre me fazia espirrar. Então... juntei todas as sensações e celebrei a vida que voltava ao normal.

Por onde andei, se é que andei?

O que interessava a mim naquele momento, era sair correndo de encontro aos raios de sol que clarearam a casa, traziam vida. Queria, e precisava muito, novamente sentir na pele o calor daquela luz.

Custei a ficar de pé sozinha. Apareceram então: o Édi, a Alice com o Eduardo a me ajudarem a andar. O Trovador e o Tatu, estampavam a capa do livro escrito por mim, trazido por eles.

E foi depois dessa experiência toda, que percebi um mundo diferente. À minha volta o calor humano; as pessoas com quem nunca troquei um “bom dia”; a vegetação verde amarela; os pássaros nos fios dos postes, onde tem seus ninhos; os cães e seus tutores, e os abandonados também. Para tudo e todos uma atenção especial dos passantes nas ruas.

- Mudou o mundo ou mudei eu? As coisas estavam diferentes sim. Neste primeiro olhar, depois de um bom tempo no isolamento social, seria previsível o estranhamento...

e assim foi e é até hoje, tanto tempo passado:

- A máscara protegendo usuário e seu semelhante.

- A medição de temperatura automática e à distância, de cada pessoa que entra e sai no comércio, prestadoras de serviço, órgãos públicos, coletivos etc.

- A alimentação em restaurantes cumprindo o distanciamento individual estipulado.

- Bebedouros lacrados.

- Objetos de uso individuais, em lugares públicos, higienizados antes e depois da utilização.

- Cumprimentos com acenos de mão.

- Maior volume de conversas nas redes sociais.

- Encontros e reuniões pelo celular.

- Paciência, paciência e paciência...

Até a corrida ao incerto enriquecimento financeiro não desperta o mesmo, ou mais interesse que antes...

-Será?

E eu, cá na porta da sala de aula grito aos alunos que estiveram em recreio:

- Corre minha gente, hoje tem historinha!

É a vida que continua.

Vida nua.

Só Amor e Paz!



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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