dezembro 18, 2020

Vendo

Por Elisabeth Santos

Azaleias

Vendo o meu quintal!

Você aí que está a ler esse anúncio, preste bem atenção: o preço é módico para que o pagamento seja a vista. A vista é linda de cada um dos quatro lados que você olhe estando no centro do retângulo equilátero. De duas laterais você poderá ver campos, morros, algumas ruas, e casas o suficiente. Da terceira lateral, percebe-se a existência dos quintais vizinhos. E na quarta erguendo o olhar, você pretenso comprador, verá a varanda dos fundos da casa onde resido há vinte anos. No jardim de entrada existe passagem da rua para o quintal.

 Sendo um terreno em declive, e não sendo temporada de estiagem, a enxurrada desce sem empecilho e por um vão deixado no muro para isto, se espalha no pasto de cavalos de sela, e bois de puxar carro. Todos bons de serviço, não perdem tempo com namoricos!

  O quintal em questão, motivo do anúncio, tem a seguinte medida que eu mesma conferi: setenta por trinta e cinco passadas largas. Tem as seguintes árvores: meu limoeiro e meu pé de jacarandá versejados e cantados; encantado pé de uvaias; muitas cactáceas de belas flores, e saborosas pitayas; e duas preciosas nogueiras a produzir pecans.

 Aqui não falta: banana, goiaba, abacate e laranja. Cada qual em sua época, tem-se frutas o ano todo. Com elas vem: saís e sanhaços de cores variadas; as patriotas maritacas vestidas de verde, e uma seleção de canários amarelos. Sabiá laranjeira, o senhor João de barro, rolinhas e pardais formam a corte de sua majestade o sabiá. Gente, a melodia do sabiá, se junta ao chamado do bem-te-vi, ao trinado de tantos outros pássaros, que parece mesmo uma orquestra. Revezam-se do nascer ao pôr do sol trazendo alegria a todos.

Na hora da refeição reforçadora da passarada tem disputa perto do cocho de alpiste. Observo que os maiorzinhos ameaçam os pequenos. Não lhes dão sossego até que chegue outro que os enfrente.

 Quando o gato sem dono passeia em cima do muro, sabendo muito bem o que quer é o momento certo de todos baterem asas em fuga, numa revoada só.

Tucanos vem visitar-me para bicar e derrubar abacates ou comer a parte verde das nozes. São lindos em suas cores e aquele bicão, que a gente não sabe como consegue equilibrar no voo.

Também tenho andejos diurnos que nem meu lagarto teiú, e os noturnos parentes próximos da linhagem do gambá. Não me amolam, principalmente porque não tenho criadouro de galináceos.

Há um bom mostruário de fauna e flora a ser apreciado nesse quintal, e sobra espaço para caramanchão, churrasqueira, mesa e bancos fixos no chão de terra e gramíneas. Numa das árvores poderá ser amarrado um balanço feito de pneu. Em outras, é possível colocar a “rede de malha branquinha e dois a sonhar dentro dela”.

O perfume de rosas se espalha, juntamente com as borboletas.

A terra é fértil, e a dezoito metros de profundidade sei da existência de água potável.

Finalizando o anúncio afirmo ter o IPTU e toda documentação em dia para a venda de porteira fechada.

Tudo certo, para receber o(a) comprador(a)!

***

A tempo: Relendo o anúncio de venda...RESOLVI NÃO VENDER MEU QUINTAL, POR NENHUMA OFERTA POR MAIS TENTADORA QUE SEJA!


Hibiscus



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia"


3 comentários:

  1. Linda postagem! Texto delicioso de ser lido! Eu gostei! Principalmente das partes em que fala das frutas, das aves, que fazem visita, e da água, subterrânea! Sua morada é um paraíso! Você está no céu! É só disso que precisamos para viver felizes!
    As fotos das azaleias me lembraram o manacá-de-jardim. São semelhantes. E as imagens do pé de hibiscos me recordaram um pé de hibiscos vermelhos que havia numa chácara onde morei com minha família em parte da minha infância lá no começo dos anos 2000. 2002 e 2003. Era convite para os beija-flores, que apareciam por lá de vez em quando, em busca de néctar; mas para as saúvas também, que moravam perto da árvore e de tempos em tempos atacavam suas folhas e flores, enfim.
    Eu gosto tanto dos hibiscos... tendo morado numa chácara com essa árvore florífera eu aprendi a apreciar e gostar. Dessas e d'outras flores. 🌺🌺🌺
    Felicidades e muitas boas realizações em 2021! 🎉🎊
    ~Cartas da Gleize. 💌

    26/12/2020 - 01:47 a.m..

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    1. Olá Gleize, obrigada pelo comentário! Espero que tenha um ótimo 2021 entre amigos e família. Um grande abraço, Elisabeth

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    2. Muito obrigada. Igualmente. 🌹

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