fevereiro 28, 2020

Meu vovô

Por Elisabeth Santos

Meu vovô me ensinando a dirigir.

Meu vovô é muito lindo: conversa comigo, faz eu dormir e me leva para dar uma volta de carro. Quando eu vou pegar no sono, por um tempo fico conferindo se ele continua ali pertinho me olhando. É bem assim: meus olhos vão fechando de sonolência pura, tento conservar eles bem abertos para ver se o meu vovozinho ainda está por ali. Se está, eu sorrio. E assim abrindo e fechando os olhos cada vez mais lentamente... Cansado de querer me livrar do sono profundo, eu durmo sossegado.

Dormir é muito bom quando eu acordo. Acordo de bom humor, sorrindo até chegar meu leite. Se atrasa... abro a boca a chorar para dizer à minha mãe, que ela está demorando. Então é esta a ordem do dia:

_ Dormir sob o olhar do vovô, e acordar com a minha mãe já me esperando para mamar.

A hora do meu banho eu não deixo passar. Resmungo e resmungo. Escuto o barulho da água e espero. Para mim é um recreio escolar de tanta felicidade quando meu vovô, ajudado pela vovó, me põe na água. Que delícia!

Eu tenho que me manifestar na hora da saída da banheira, então faço beicinho de choro. Minha vovó, encarregada de me secar faz daquele momento uma farra e eu desisto de reclamar que sair da água, meu ambiente natural antes de nascer, é decepcionante.

Depois... chegando a hora de por roupa, todo mundo já sabe o que não gosto. Choro de verdade se gola e punhos são difíceis de passar. Vovô sempre dá um jeito de amenizar a situação, conversando e rindo para mim.

_ Quer ficar pelado é? Pode não. Olha que roupinha bonita escolhi para você na loja do Turco.

Volto à minha rotina de mamar, dormir, brincar.

O choro é meu modo de dizer que molhei a fralda. No exato momento da troca, muito à vontade assim peladinho, sai um xixi em direção a quem ali está comigo. Acho que já acertei cada um que cuida de mim. Se falta alguém, pode aparecer que ainda acerto.

Os cuidadores habituais estão avisados:

- Feche a fralda limpa rapidamente. Sem querer querendo, lá vai um jato. Vovô é meu alvo preferido porque não reclama. Muito pelo contrário, dá risada. Aliás... tudo que eu faço ele acha engraçado ou bonito. Conta pra todo mundo minhas proezas.

E eu fico feliz!




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora resolveu escrever e já publicou dois livros. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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