Em 1948 chegaram de Aracaju a Campanha, sul de Minas,
Milton, Margarida e nove filhos. Alugaram esse casarão onde residiram, tiveram
e criaram mais seis filhas. A casa não era nova, conservava no porão umas peças
de ferro usadas para manter presos negros escravizados.
Logo de chegada ao interior do estado, os meninos mais
velhos da família recolheram esses objetos e doaram ao museu local.
Lá existe até hoje boa quantidade de coisas desse
tipo, e visitantes sensíveis nem visitam o setor “tempo da escravidão” por não
se sentirem bem. Outros passam rapidamente. Crianças olham curiosas e perguntam
que parte do corpo esses ferrolhos prendiam: Pescoço, punhos, canelas?
Nosso casarão passou a ser nosso, com escritura e
planta baixa registrada no final dos anos cinquenta, e aí sim pode ser
reformado para comportar a família, a babá, além de outros serviçais
esporádicos, muitos parentes, amigos, conhecidos e mendigos. Observem bem na
porta de entrada um coraçãozinho com os dizeres “Assistência aos Pobres”.
Aquela plaquinha ali era levada a sério.
Nessa reforma a casa ganhou mais dois banheiros, dois
quartos, lavanderia no porão, e o depósito de água com bomba elétrica para
suprir duas caixas, e ainda reservar.
Posteriormente o fogão de lenha foi substituído pelo
fogão a gás, e chuveiros que ainda tinham água aquecida na serpentina, foram
trocados por elétricos.
Embora já tivéssemos ganho do Tarcísio um moderníssimo
fogão de cinco bocas e dois fornos... não achávamos cozinheira que quisesse
aprender, e perder o medo de manejá-lo.
Mamãe não dispunha de tempo para tal, pois trabalhava
no Correio com o papai. Se me perguntam hoje como é que ela dava conta de todos
seus afazeres de dona de casa, esposa de executivo que viajava bastante, mãe de
quinze filhos, e todos os demais compromissos sociais, religiosos, culturais
etc. eu responderia:
_ Com serenidade, ciente de estar cumprindo sua missão
na Terra.
Enquanto criança foi marcante para nós, as seis
campanhenses, as brincadeiras e jogos no quintal. Na adolescência tivemos uma
quadra de vôlei que permanece, e a mudança da “eterna” mesa de pingue pongue
transportada para o “rancho” que permitia recebermos amigos e amigas a formar
equipes e times.
Essa casa foi muito importante para todos nós da
família: dos Marques e dos Carvalhos, e de outros sobrenomes que se foram
juntando em uniões matrimoniais, e gerando descendência até os dias atuais.
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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