Madame foi à loja comprar tecido para fazer echarpes. Escolheu um chiffon de seda estampado e mandou cortar trinta e cinco centímetros. Quem a atendeu, verificando que a peça do tecido estava no fim, disse não poder cortar, pois a ordem do patrão era que ninguém ali deixasse retalho medindo menos que setenta centímetros.
Madame achou esquisita aquela determinação do dono da loja. Ela bem podia levar o pedaço todo e deixar a sobra esquecida no atelier da modista. Mas querendo saber até onde haveria de ir aquela história de “perder a venda” para ficar com um retalho que passa a valer a metade do preço na liquidação, decidiu levar só trinta centímetros.
A vendedora foi até seu patrão para perguntar-lhe se poderia cortar os tais trinta centímetros. Ambos, patrão e empregada mediram o que ia sobrar. Dos cem centímetros de chiffon, tirariam os trinta para Madame fazer sua echarpe, restariam os setenta para a banca de retalhos e ficariam todos satisfeitos.
Ao retornar para dizer à Madame que o chefe aceitou que fosse feito o corte, surpreendeu-se:
_ Então corte logo o que eu preciso. Quero trinta e cinco centímetros de chiffon para fazer uma echarpe.
Depois dessa complicada transação comercial madame comprou ali tudo o mais que precisava, já que a echarpe era só o complemento de todo o traje exclusivo e sob medida que haveria de usar numa grandiosa festa.
Conversando com uma amiga, perguntou-lhe se via ”a lógica da loja” ao priorizar um retalho ainda sem dono ou destino certo, em detrimento de atender satisfatoriamente uma freguesa.
A resposta:
_ Esse pessoal que visa só o lucro, acaba se esquecendo da pessoa existente atrás do cartão de crédito. Quando começam a raciocinar sobre: chances que estão perdendo, como sanar as falhas, personalizar atendimento aos fregueses ou simplesmente serem mais flexíveis, se acham capazes de alçar um novo voo. Daí vem concorrer conosco nas indústrias. Deixemo-los quietos onde estão!
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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