novembro 06, 2020

Inédito

Por Elisabeth Santos

Free photo 734214 © Juan David Ferrando - Dreamstime.com
Free photo 734214 © Juan David Ferrando

Meu próximo texto terá esse título aí. Quem sabe alguém tenha a curiosidade em lê-lo, não é mesmo?

Além do ineditismo vou recheá-lo dos assuntos apropriados a ganhar novos leitores. O leitor dessas mal traçadas linhas poderá perguntar-me que temas eu abordaria, sem receber uma resposta elucidativa de minha parte. Inédito é inédito. Se eu ficar proclamando aos quatro ventos o que está contido ali, depois da capa ser aberta, serei incoerente. A brincadeira vai perder a graça!

Numa entrevista improvável de acontecer do jeito que imagino, alguma rede televisiva talvez me arguisse começando por essa máxima: - Por que você publica seus escritos?

Calmamente eu ponderaria: - Minha mente não para de ter ideias. Para que eu consiga cuidar da minha vida como devo, tenho que escrever. Se escrevo e arquivo aquilo fica martelando meu pensamento. Quando divulgo sinto-me livre para outro texto a povoar minha mente. Não sei o que será o fim disso, nem o que o Serafim disse! Vou escrevendo. Vou divulgando. Em tempos de isolamento pandêmico vem a ser uma solução razoável.

Não canso de desculpar minha vontade insaciável de transformação de pensamentos em letras achando ser um incentivo para quem, não sendo escritor ou escritora, leve a cabo sua vontade de escrevinhar, e divulgar.

Pode ser uma bobeira, mas faz parte do problema.

Quando eu era criança, já alfabetizada, escrevia cartas e mais cartas para meu pai que viajava a serviço, para vovó que residia em outro Estado, e para alguns dos meus irmãos que estudavam em cidades distantes. Parabenizava-os pelo aniversário; descrevia as comemorações locais; desejava-lhes Feliz Páscoa mesmo sem entender direito o significado, e contava poucas novidades. Com minha melhor letra conseguia preencher uma ou duas páginas no máximo. Se datilografadas, caberiam três cartas numa folha de papel ofício.

A segunda pergunta que o entrevistador certamente me dirigiria, acho que ia ser sobre o mix que costumo fazer de linguagem formal, vocabulário culto, palavras populares ou gírias do momento, em meus escritos. Sentir-me-ia embaraçada para responder. É que eu quero sentir-me próxima do leitor seja lá com a idade ou formação escolar que possua. Se ele conseguir identificar-se com um vocábulo utilizado por mim numa página que seja, já estarei satisfeita. Isso não é bobeira. É bem mais. É sentimentalismo puro!

 Já vivi bastante, lustrei muitos bancos de aprendizado, convivi com pessoas diferentes, viajei... Entretanto até hoje não consegui separar, classificar, ordenar por ordem crescente ou decrescente tudo que é pensamento que me dá na telha.

Sou capaz de engabelar qualquer mente perniciosa iludindo-a com a questão maior: “Ser ou não ser”.

Pessoas querendo saber de mim, o que eu mesma ainda desconheço, assustam-me. Parece que estão querendo ver-me do avesso, sem outro objetivo que não seja de satisfação própria. -‘Tô fora!

Mas, afinal querem mesmo saber de algo inédito, que seja lido e comentado pelos maiorais do assunto “escrever e ler”? muitos de nós que somos da escrita gostaríamos muito de saber...

A situação inverteu-se e caiu numa pesquisa difícil, que resumo aqui em duas simples respostas:

- Os que leem para ter assunto com leitores assíduos.

- Os que leem por gosto ao ineditismo, seja de abordagem de um tema, ou do autor desconhecido parecendo querer se infiltrar num meio ao qual ainda não pertence.

- E quem acha que pertence, tem certeza disso no universo da escrita e leitura?

“Eis a questão”.



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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".


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