setembro 29, 2017

Bamboleando

Por Elisabeth Santos

Quem acha que idoso só sabe falar do passado, se engana. Gostar ele até gosta muito de recordar momentos de outrora, mas vive o momento presente, usa alguns aparelhos da atualidade, opina sobre o que está na mídia, sem deixar de fazer certas comparações.

_ No meu tempo...

Vovô ia começar a frase, mas foi cortado pelo neto:

_ Que isto vô? O senhor ainda está no seu tempo, se está aqui agora ainda vive um tempo que é seu!

E é assim que o idoso percebe ser capaz de decidir como deseja curtir sua vida embora as limitações impostas pela idade.

E o passarinho canta lá no alto do poste: bem te vi; bem te vi!

Ouve-se o comentário de um dos idosos do grupo que peleja no horário da Ginástica:

_ E pensar que já acreditei ser o “Bem te vi” o dedo duro a denunciar minhas artes e mentiras de criança... Os adultos punham medo na gente: _ Este pássaro está afirmando que o viu aprontando alguma. Se você mentir, aquele passarinho que tem tesoura no rabo virá aqui cortar sua língua.

_ No meu caso, era diferente _ Comentava a colega _se correndo para não receber castigo pelo mal feito, a gente tropeçava e caía, o adulto em questão afirmava que estaríamos caindo no próprio inferno.

_ Lá em casa nenhum arteiro escapava do puxão de orelha bem dado, do castigo no canto da sala, ou até da vara de marmelo_ era outro comentário.

Vara de marmeleiro, ou de amoreira, tanto faz como tanto fez, está no livro bíblico dos Provérbios: “o pai que poupa a vara na disciplina do filho, não o ama de verdade.”

E a aula de ginástica para alunos da Terceira Idade prosseguia animada com ioiô, peteca, bola e bambolê.

Comentário de quem viveu na roça, sem brinquedo:

_ E nós que nem tivemos tempo para essas brincadeiras todas, aproveitemos agora. Vamos bambolear!


Bamboleando, 2005 por Sandra Guinle





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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