A Beth revendo fotos. |
Por Elisabeth Santos
Olhava as fotos, colava-as num álbum e escrevia logo abaixo de cada uma: data, local, nomes dos personagens, e motivação do encontro. Diante de dúvidas, saia de seu escritório e indagava se as pessoas da casa poderiam ajudá-lo no reconhecimento.
Olhava as fotos, colava-as num álbum e escrevia logo abaixo de cada uma: data, local, nomes dos personagens, e motivação do encontro. Diante de dúvidas, saia de seu escritório e indagava se as pessoas da casa poderiam ajudá-lo no reconhecimento.
Este álbum ficou completo, como tantos outros que organizara. O trabalho só não terminava, porque sendo de família numerosa, que apreciava registrar os bons momentos vividos, sempre estavam surgindo novas fotos.
Ao arquivar seu minucioso trabalho, porém, deparou-se com um envelope recheado de fotografias, preso entre uma prateleira e o fundo do armário.
Abriu, olhou uma a uma, e não reconhecendo nenhuma daquelas figuras, dirigiu-se aos outros cômodos da casa pedindo auxílio aos seus familiares.
Ninguém sabia de nada. Não reconheceram os fotografados, deram palpites sobre data provável, levantaram hipóteses sobre o cenário, mais nada...
Pelas pistas colhidas, achou por bem fazer cópias e remeter o conteúdo do envelope misterioso, à tia avó paterna, ao tio avô materno e seus familiares, e aguardar as respostas.
Muito mais que simples dados, recebeu a visita dos parentes com muita vontade de relembrar fatos de antanho, e nenhuma de deixar por escrito o que as fotos retratavam.
_ Essas pessoas trabalhavam num estaleiro de navios, de origem holandesa _ afirmaram os visitantes _ Tornaram-se amigas e divertiam-se juntas nos dias de folga. Este, que aparece aqui nessa foto, de chapéu
branco, era um ótimo dançarino. A moça dessa outra foto, era a prometida em casamento ao colega daquele. Essa que está de mãos dadas com ele, é a irmãzinha caçula. O rapaz sério, meio calvo, é um parente nosso...
Enquanto a história ia sendo relembrada, fotografias iam passando pelas mãos das pessoas ao redor: passeios, casamentos, aniversários, batizados e muitas viagens. Entretanto, como ninguém manda no coração, os casais nem sempre concretizaram a vontade dos pais, que escolhiam com quem os filhos casariam. Houve mudança de destinatários de sentimentos amorosos de uns e outros, e com o tempo, nem amizade unia essa turma.
Os desentendimentos, não só por ciúmes, envolveram as famílias que tinham rompido contratos importantes de prováveis enlaces matrimoniais, e consequentemente de parcerias vantajosas nos negócios.
Diante da curiosidade dos presentes, depois de mais um gole de café acompanhado de biscoito de farinha, ouviu-se o desfecho:
_ Para não afirmar com todas as letras, que nunca mais se viram, hoje cá estamos, filhos, sobrinhos netos e bisnetos para uma foto da continuidade daquela história.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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