março 03, 2017

Alguém

Por Elisabeth Santos

Quer ver um gatinho fofura?
Sentado no banco da praça, no alto do morro da igreja matriz, sem ter o que fazer, ou com quem conversar, observa à sua volta. Vê lá embaixo, na rua íngreme, algo que vem pela calçada, acompanhado de uma coisa menor, se movimentando também.

São figuras indefinidas, que vem subindo a ladeira devagar, em passos incertos. Um parece um monte de trapos, cobrindo uma vassoura, mas vassouras não se locomovem sozinhas. A silhueta menor, se assemelha a um esfregão de chão, sem sua haste, que também não tem o costume de sair por aqui, ou por aí.

O curioso observa e faz conjeturas.

A distância diminuindo, as “coisas” vão tomando forma mostrando suas cores. Agora o mais alto parece gente coberta de mantas, o mais baixo é um animalzinho que tanto pode ser um cão de pequeno porte ou um gato bem crescido.

E eis que as figuras chegam bem perto do observador curioso, sentado no banco da praça da matriz, no alto do morro sem ter o que fazer ou com quem conversar...

Não parece idoso, jovem também não. Em sua mão direita um cajado; ao lado esquerdo, um gato peludo e sujo.

A primeira manta do homem, mais parecia uma colcha bordada em tons de cinza. Sob ela, um cobertor, que algum dia teria sido xadrez de azul. E ainda debaixo deste, pelas bordas de seda puída, outra manta escondendo a roupa rasgada colada ao seu corpo magro.

Enquanto o gato fazia suas incursões pelas portas das residências, e delas era enxotado, o andarilho aproximava-se mais e mais do observador curioso. Já bem pertinho, estendeu-lhe a mão esquerda fechada, assustando-o.

Foi o momento de ouvir-se:

_ Por que assustar-se, se somos semelhantes?

_ Acho que estive cochilando. – foi a resposta ouvida.

Em seguida, ouve-se o baque surdo, um miado comprido e os olhares dos dois sujeitos se voltam em direção aqueles sons repentinos. Rápidos, voltam-se para o bichano estendido no chão, vizualizam a janela de onde possa ter pulado. Não pulou!

Foi tocado pelo espanador da faxineira, que limpava a janela do predinho. Não caiu em pé, como é próprio de pulo de gato!

Também não morreu. Quebrou uma das pernas. Foi acudido a tempo pelo dono e o sujeito seu semelhante, veja só!

Mais tarde, os dois homens se perguntaram:

_ Como teria o felino/amigo chegado ao quarto andar?

Desta feita... continuaram sem resposta.




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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