maio 17, 2019

Filmes

Por Elisabeth Santos

Em minha pequena cidade mineira havia um cinema como única diversão permanente. Os filmes eram sempre muito bons, mesmo mostrando realidades inatingíveis para a distinta plateia. Mostravam também as sagas de outros povos nas conquistas de “escravos”, espaços e poder. Opostas às “nossas”, que traziam histórias de outras populações com interesse em nosso país e dele sugarem tudo.

Bem depois vieram filmes brasileiríssimos, exibidos numa proporção que dava  chance igualitária aos produtores de filmes daqui em praticarem e aperfeiçoarem a sétima arte.

Lembro-me da expectativa de meus pais ao lerem no jornalzinho local que o nosso lindo Cine Theatro S. Joaquim ia exibir em sua tela, padrão da época, “Ravina” de Rubem Biáfora.
Acredito que mamãe vestiu roupa de festa, papai pôs chapéu Ramenzoni, e pegando o guarda chuva, o casal subiu a ladeira de braços dados tudo de costume, quando o filme era importante (lançamento é que não, porque as novidades levavam anos para ali chegarem).

A volta para casa é que foi triste... descendo a ladeira, embaixo de uma chuvarada, cuidando pra não escorregarem, os dois faziam comentários sinistros.

O que teria sido?

_Os demais assistentes fazendo barulho irritante com as cadeiras? O pessoal da Torrinha, que pagava meio ingresso, assobiando no momento que a película cinematográfica arrebentava? O estouro dos saquinhos de papel enchidos de ar quando as pipocas acabavam? O “lanterninha” andando de lá para cá alertando que ia colocar fora do recinto os baderneiros?

Enfim... pai e mãe chegaram em casa falando, falando... fazendo comentários nada elogiosos ao filme. Concluíram que estavam decepcionados por terem ido ao cinema pensado em “Sabrina”, cinderela à francesa, e não numa “Ravina”, desconhecida personagem do que traziam na mente como “A heroína”.

Há muita diferença entre um filme “água com açúcar”, e outro “dramalhão tipo O morro dos ventos uivantes”. Para quem pretendeu uma diversão, saiu frustrado até por não entender cenas silenciosas e demoradas a criar um clima num sei de quê.

_Filme é assim mesmo e sempre haverá uma nova onda!




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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