novembro 18, 2016

Tivó

Por Elisabeth Santos

Quadros de madeira da Beth.

Tia avó é em geral uma tia que se sente avó. 

Minha Tivó, primogênita de uma prole numerosa, sente-se mais avó que tia. Por ter se casado, e enviuvado, sem no entanto, ter tido ou criado filhos, age como se fosse mãe dos seus queridos sobrinhos netos. Ensina, corrige, protege, adula e mima, mima, mima... os pequeninos.

Existe também tia avó, que se sente tia, mas aqui se trata de uma autêntica “Mãe-Tia- Avó”, como alguma outra que o leitor poderá conhecer.

Como ninguém nunca é, nem foi perfeito nesse, ou em outro mundo, minha Tivó tem seus rompantes. Se contrariada, fica brava, de testa franzida. Se aborrecida, ajuntam-se a essas feições, uns resmungos. E vendo-se sem saída, numa discussão mais grave, em família... Vira um furacão! Um furacão do bem: começa arrumando suas gavetas e separando o que não tem mais utilidade. Põe em ordem seu baú de lembranças, renovando a naftalina e o papel de seda azul, tidos e havidos como espantadores de traças. Limpa os cantinhos da estante de livros. Engraxa os sapatos engraxáveis. E prosseguindo, sem uma palavra, organiza a casa toda, junta pares de meias perdidas, chuleia casacos de inverno, conserta brinquedos, encapa cadernos, passa a limpo a caderneta de endereços... e chegando na área de serviço até sorri ao ver tanta coisa para fazer: limpa o filtro da lavadora de roupas, lava os pelos das vassouras, separa e empilha tapetinhos, panos de chão, de pó, de lustro etc.

Todos os demais residentes naquela casa observam o ataque de fúria dela, a Dona Tiavó Ana Marcolina, com o devido respeito. Ai de alguém, a fazer um comentariozinho que seja, ou der uma risadinha disfarçada! Há de ver um chinelo voador vindo em sua direção.

Só sei que o furacão não vira tsunami, ou pelo menos não virou até hoje, posto que todos lucram com os feitos daquele ser humano, que nem sempre é visto como tal pelos demais.

Se alguém quiser um lar onde tudo esteja em seu devido lugar e funcionando perfeitamente, sabe o mecanismo a acionar.

Entretanto, ninguém nessa família, quer ser deliberadamente o motivo de zanga da titia do coração! É que às vezes acontece...




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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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