julho 10, 2015

Cemitério

Mais um lindo quadro da Beth.

O local que também é sabido como “Nossa última morada na Terra” tem suas peculiaridades...

Por exemplo:

Crianças não vão lá costumeiramente. Assim sendo muitas tem na ideia o Cemitério das histórias em quadrinhos. Um local onde circulam esqueletos, zumbis e assombrações que “vivem” de assustar os outros e dar gargalhadas.

Adolescentes vão tão pouco a um cemitério que chegam a imaginar túmulos como residências dos que se foram desta vida.

Para os adultos o “Campo Santo” é lugar de silêncio, oração, paz, e sobretudorespeito.

Para os bem velhinhos mesmo, o cemitério pode representar tudo isso, mas sem deixar de ser o espaço onde brevemente estarão. Ao mesmo tempo, que tem consciência disso, ainda é muito difícil conversar sobre o assunto com os familiares ao seu redor. Então...

A anciã centenária pede à sua cuidadora que lhe traga o baú de lembranças queridas. Tira dele um relógio de pulso, umas fitas acetinadas, uma fotografia encapada de plástico transparente... Neste momento (que será eternizado) chega uma visita para ela. Depois dos cumprimentos, a velhinha explica o que estava fazendo:

_ Que bom que você chegou querida! Poderá dar-me uma sugestão. Pensei mandar este relógio aqui para uma revisão, polimento e troca de correia. 

Gostaria que ficasse de lembrança para minha bisneta. Tudo bem?

_ Ótimo! Acho mesmo muito legal! Aninha poderá até usá-lo em alguma ocasião especial se gostar da moda Retrô.

Então a bisa recolocou o relógio em seu estojo original, e apresentou à amiga a foto de família.

_Este retrato quero mandar emoldurar para ficar no corredor da entrada desta casa. Quero que meus descendentes tenham oportunidade de ver e pensar sobre nossa família. Viemos do nada, fomos criados na honradez, união, estudo e trabalho... Você acha que estou certa?

_ Claro! Muito boa ideia!

_Já estas fitas aqui. Pedirei à minha cuidadora que as lave e passe para irem comigo na urna mortuária.

_ E que fitas são essas, amiga?

_ Do tempo que eu participava de Congregações na igreja. Eram identificações dos grupos a que eu pertencia: “Dama de Caridade”; “Filha de Maria” e a de “Irmãzinha do Bom Jesus”. Quero partir levando a certeza de ter seguido o caminho traçado para mim por meu Deus. Concorda?

_ Sim! Você vai ficar mais bonita!

E o chá foi servido, e as duas amigas continuaram ali a conversar, comendo uns sequilhos de coco.

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Passado algum tempo, num dia dos Finados, Dona Auxiliadora arruma uma sacola para sair. A jovem ao seu lado, vendo-a atarefada indaga aonde é que ela vai.

_ Vou levar flores ao túmulo de sua bisavó. Hoje é dia dos mortos e vão muitas pessoas ao cemitério.

_ Eu quero ir com você! Quero ver minha bisavó também. Você destampa o túmulo para arrumá-lo, retirar a poeira, colocar as flores nas jarras?

_ Não é bem assim. Não vemos nunca mais as pessoas que lá foram enterradas. As flores enfeitam, faço uma oração pelas almas dos que se partiram deste mundo, e só trago de lá a saudade que ficou...

_ Ah... Entendi!





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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".

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