A menina foi à aula do jardim de
infância nos idos de mil novecentos e cinquenta e voltou pra casa, feliz da
vida, contando a todos da família:
- A professora disse que eu sou muito
“intelijada”!
De uma mistura de prefixo e sufixo
verbalizou o que os adultos daquele lar sabiam de sobra: - Ilzinha nasceu
inteligente e criativa e precisava de espaço, liberdade, e da paciência dos
demais à sua volta para matar todas suas curiosidades infantis.
Passado mais de meio século lá estava
ela às voltas com o computador, e seus avanços “internáuticos”.
Certo dia percebeu algo estranho
semelhante à brincadeira de “pique esconde” no computador utilizado por ela
diariamente. Este vinha com respostas aos seus questionamentos anteriores assim
que aberto na internet. Achou que aquilo poderia ser uma brincadeira de mau
gosto de amigos de suas redes sociais. Não era, mas não conseguia detectar a
fonte de onde jorravam.
E a Dona Ilza resolveu em nome de
suas atividades de pesquisa, leitura e escrita... tocar o barco, independente
dos anúncios que apareciam no decorrer do dia ao computador.
Não eram só anúncios comerciais.
Apareciam matérias sobre assuntos que lhe interessavam... Se bem, que repletos
de cookies. Até vinham esclarecimentos sobre a utilização destes, mas eram
tantos que chegavam a prejudicar a qualquer usuário da rede. Principalmente idosos.
Certo dia, impaciente com tantas
mensagens intrometidas em sua vida de leitora e escrevinhadora resolveu chamar
um técnico e saber direitinho o que poderia estar acontecendo de errado ali.
Ele fez o trabalho dele certinho, dando uma limpeza, atualizando antivírus, e
instruindo-a quanto aos cliques perigosos por mares nunca dantes navegados por
ela.
Dona vovó chegou a perguntar ao profissional
dos computadores se estaria ela sendo sondada. À resposta negativa do moço,
desestressou. Dali a pouco ele declara convincente:
_ Tudo que a senhora vê agora, e a
intriga, vem da Inteligência Artificial.
- O quê? Mais esta agora para eu
aprender. Só faltava isto.
- Não. Sinto ter que dizer-lhe que
ainda vem muito mais coisas por aí. Prepare-se Dona vovó Ilza. Não se trata
somente do que a nossa vã filosofia sonhava. Agora temos Física, Química e
todas as outras ciências conhecidas na Terra envolvidas em trabalhar para
conhecermos mais.
- Então... que Deus nos acuda, e
venha o que vier de proveitoso para o bem das outras gerações!
--
Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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