Resolvi fazer um curso de detetive acreditando piamente ter paciência de sobra para investigar até a finalização satisfatória qualquer caso de sumiço.
Só de sumiço!
Objetos preferencialmente.
Dentro de um ambiente limitado.
Com cliente interessado no assunto o bastante, para responder minhas perguntas básicas: Características da coisa desaparecida; data e horário prováveis do acontecimento; local onde foi visto “o sumido” pela última vez, e pessoas presentes que pudessem colaborar com informações adicionais no decorrer da busca. Até os dias atuais, não falhei uma vez sequer. A bisa já havia me chamado para descobrir onde andava a pensão recebida do falecido, e descobri. Vovó pediu-me certa vez que procurasse seu colar de pérolas cultivadas, e embora ela afirmasse categoricamente que em determinada gaveta ela já havia procurado sem achá-lo... lá procurei e encontrei sua joia de estimação! Por esses e outros trabalhos investigativos convenci-me de precisar atualizar-me urgente e continuar a merecer a confiança de outros prováveis clientes.
Três dias de curso intensivo, mais prático, que teórico, melhoraram meus conhecimentos, posto que objetos pessoais do século XXI existem em maior número, e são mais valiosos devido ao grau de utilização nas informações. Além disso tudo, estão diminuindo em tamanho e espessura causando dificuldade em acharmos seus esconderijos.
Ainda bem que o instrutor exemplificou com dois celulares. O primeiro à mão, o segundo oculto propositalmente na sala de aula. Fazendo-se a ligação telefônica, ouve-se o sinal dado pelo celular buscado. E se estava desligado... a investigação continuava até obter-se êxito.
Revira-se tudo que estiver no entorno, afirmava o mestre, começando pelo óbvio ululante: bolsa e bolsos do proprietário, livros e cadernos, marmita etc. Fracassando esta etapa, pergunta-se onde o dono do pequeno objeto eletrônico esteve por último a utilizar “o sumido”. Intensifica-se a busca em outros cômodos próximos: banheiro, copa, sala de multimídia... Cada móvel é revistado atenta e cuidadosamente. Depois dos móveis, os cantinhos e seus lixinhos.
Formei-me no curso com louvor.
Logo no primeiro apelo para que eu descobrisse por onde andaria o volume dois da enciclopédia Spazia Calda desaparecido na própria biblioteca de um amigo, ex- colega de faculdade, passei oito horas na busca. Encontrando-o fiquei satisfeita, e recebi de recompensa três outros livros com dedicatória do autor!
Caído atrás da estante, ou das gavetas da escrivaninha não estava. Quem sabe estaria servindo de anteparo à vidraça da janela, ou da porta? Desta vez fui verificar com a faxineira, e lá estava o volume substituindo parte do pé quebrado de sua escada portátil acompanhando-a de cá para lá, garantindo-lhe “segurança”.
Então, ficam aqui as dicas para as procuras de perdidos: lugares pouco prováveis devem ser vasculhados também, pois na minha percepção, objetos terão o uso mais adequado à necessidade pessoal do momento.
Não faça mau juízo de ninguém antes de verificação atenta, por mais que você se lembre da frase hilária: “Antes levar o objeto por engano, do que deixar o que lhe pertence por esquecimento”.
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Elisabeth Carvalho Santos desde alfabetizada lê tudo que aparece à sua volta. Depois de aposentada professora (não de Português) resolveu escrever. Colabora com o jornalzinho da família, participa de concurso cultural e coleciona seus textos para publicar oportunamente. Os assuntos brotam de suas observações, das conversas com amigos e são temperados com pitadas de imaginação e bom humor. Costuma afirmar que "escrever é um trabalho prazeroso e/ou um lazer trabalhoso que todo alfabetizado deveria experimentar algum dia".
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